quarta-feira, 18 de julho de 2012

Listinha da mulher pós-moderna

Supermercado, sacolão, arroz com feijão.
Fazer a unha, o álbum de fotos, a digestão.
Brincar com as crianças.
Jogo da memória. (Memória?)
Exame de sangue.
Sangrar o tempo.
Ioga. Judô. Vale-Tudo. Tudo?
Jogar fora os controles-remoto.
Levar os edredons pra lavar.
Perfumar a cama.
Ensaiar que ama.
Limpeza de pele.
Curso de corte e costura. Jura?
O cartucho acabou. A impressora estragou.
Reunião de condomínio.
(Dá pra ser virtual? Não me leve a mal.)
Chora. Ri. Medita.
Pedido de casamento. Acredita?
Bate ponto. Conta ponto.
Leva o filho pra tomar ponto.
!!!
Reunião com a diretoria.
Chá das cinco. Balada das dez.
Borrar a maquiagem na terapia.
Ser mulher, mãe, amante, filha.
Promoção de pilha.
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(Aumente a lista.)

terça-feira, 17 de julho de 2012

Homens

Três homens num boteco, cerveja estupidamente gelada, conversa pra jogar fora.
"E aí, comeu?"
A típica perguntinha circulante no universo masculino anda provocando risos no cinema.
Adaptado de uma premiada peça de Marcelo Rubens Paiva, o filme é uma ótima pedida para relaxar, descontrair e sorver um pouco da alma masculina.
Sim, alma masculina.
Por trás de todos os estereótipos, jargões e posturas que criam verdadeiros abismos entre homens e mulheres, fomentando a velha e boa guerra dos sexos, ainda há espaço para amar. E com o espaço para amar vem a dor do amor, como não poderia deixar de ser. A dor de ser traído, a dor de se separar, de se apaixonar e querer casar.
Sério.
Sim, meninas, "os brutos também amam". Também sofrem, suam frio, fazem cena e - acreditem - também choram.
"E aí, comeu?" faz em determinado momento menção aos nove casamentos do grande poetinha Vinícius de Moraes e homenageia Chico Anísio pelos seus seis.
Amor (e peleja) é o que não faltou para estes homens de rara sensibilidade.
Um dos botequeiros da trama e filho de Chico Anísio, o adorável ator Bruno Mazzeo, disse que o filme "é uma declaração de amor às mulheres".
Acredite. É mesmo.
"Garçon, vê uma bem gelada."

sábado, 7 de julho de 2012

Emergência

Tudo bem que infecção urinária
é um negócio bem aflitivo.
Casinha de dois em dois minutos, dor e calafrio.
Por conta dessa aflição toda fui parar no hospital,
já que a prudência manda fazer exames
antes de entrar no antibiótico.
O problema é quando você já está nesse processo
e ainda vem o riso pra contorcer um pouco mais
a bexiga, já a ponto de explodir.
Meu pai, que é um fofo de um coruja,
super-hiper-ultra protetor,
me levou e ficou inconformado de ver
que a minha pulseirinha era da cor verde,
ou seja, prioridade normal de atendimento.
Enquanto eu tentava me distrair
compartilhando no facebook o post anterior,
lá foi ele lá na mocinha da recepção
pleitear um upgrade na cor:
- Tem certeza que não dá pra colocar ela na frente?
- Infelizmente não, senhor. Ela não corre risco de vida.
(...)
Todo o vermelho que a pulseirinha não tinha
foi parar no meu rosto.
Risco de vida não, moça. Só de explodir.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Culpa materna parte 2

Dessa vez eu não tinha aula no mestrado. Parênteses: as aulas acabaram. Agora é só escrever, escrever, escrever. Enfim sós: apenas eu, meus livros, meus neurônios e minha orientadora que eu "ganhei na loteria".
O título da minha dissertação? "Modos de ser mãe na contemporaneidade." Hum. Pois é. Olha eu aqui escrevendo sobre culpa materna parte 2. Me sentindo objeto de pesquisa da minha própria pesquisa. Me sentindo culpada porque no dia anterior fui ao cinema (também sou filha de Deus), não abri a agenda da Bella e não vi o bilhete da apresentação de inglês pra encerrar o semestre. Fui saber do evento pela Mariana, mãe de uma coleguinha, outro ganho de loteria na minha vida.
Remanejamentos de horário aqui e acolá, conseguimos chegar pontualmente à escola, eu e o Dé. (Mega Sena acumulada: pai e mãe indo à apresentação de inglês da filha.)
Cruzamos com ela na escada, de mãos dadas com a ajudante da professora, indo até a secretaria para me ligar, já achando que eu não iria. Passando da "chuezice" à alegria, pulou no meu colo e chorou um choro de emoção, surpresa e alívio. (Alívio digo eu, ufa.)
Enquanto não começava a apresentação, fui "tricotando" com as outras mães sobre a ginástica que a gente faz pra não perder uma coisa dessa. E da culpa que a gente tem quando perde. Uma das mães, que cruzou a cidade para estar ali aquela hora, disse ter dito pro chefe: "Vou ali e já volto." (!) Como ele não perguntou onde era "ali", ali ela estava. E ainda remendou: "Mãe pode fazer terapia a vida inteira que ainda vai ter culpa."
Para as mães que compartilham dessa ideia, repasso o que aprendi (que bom que aprendi) com outro querido professor, Eduardo Gontijo, da cadeira de Ética (só podia ser): "O amor é requisito para a culpa."
Se nos sentimos culpados, é porque há muito amor antecedendo este sentimento pesado e difícil de viver. Através do amor, podemos transformar o nosso olhar diante da culpa, e até nos sentirmos menos culpados.
Que isso sirva de alento (como cobertor e leite quentinho) para as mães que não puderam ver seus filhos cantando e dançando em inglês. Se os seus filhos choraram durante a apresentação e foram habilmente conduzidos pela professora até o parquinho (ainda bem que inventaram o balanço e o escorregador), com certeza não foi por falta de amor.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Culpa materna

Semana do Dia das Mães, um ano atrás. Vem na agenda da Bella o seguinte bilhete:
"Mamãe, venha assistir nossa apresentação de inglês na próxima sexta-feira, às 14 horas. Você é nossa convidada especial."
Ui.
Justo naquele dia, exatamente naquela hora, eu tinha aula de Ética no mestrado com trabalho para apresentar.
Socorro.
Apelei pra minha mãe, que rapidamente se incumbiu de ir no meu lugar. Super vó.
(Corta.)
Uma hora da tarde, eu lá no meu mestrado tentando me concentrar na aula de Ética, alternando os olhos entre o datashow e o relógio, pensando na Bella cantando "Hello, everyone, tralalalalááááá!..."
Ai.
Que vontade irresistível de ser clonada, duplicada, virar mulher elástico de repente.
Adivinha o assunto da aula: CULPA.
E eu lá, péssima de ver o ponteiro do relógio andando, imaginando o que eu estava perdendo.
Movida por um impulso desesperador, levantei a mão e perguntei à professora:
- E o que que a gente faz com a culpa quando está assistindo aula e a filha está na escola, fazendo uma apresentação para o Dia das Mães?
- O quê?! Sua filha?! Apresentação na escola? Pega suas coisas e vai embora agora! Assina a lista de presença e tchau. Sem culpa.
Completamente rubra-rosa, surpresa, aliviada, dei um beijo na melhor professora de Ética da minha vida e saí desabalada, me sentindo a própria Indiana Jones em busca do tesouro quase perdido.
Cheguei na escola esbaforida, faltando dois minutos para a apresentação.
As crianças já estavam a postos na rodinha, se aboletando no colo das mães. Menos a Bella, assentada no chão, perninha de índio e bochecha apoiada na mão.
Deu um pulo quando me viu, saiu correndo, quase me derrubou com aquele abraço.
Happy, great, delicious hug. Sem ruga nem culpa.
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Tudo isso pra contar que hoje teve mais uma apresentaçãozinha de inglês da Bella lá na escola, com direito a "ser filho também é padecer no paraíso." Aguarde o próximo post.