segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Conexão

Curso de psicanálise. O tema, Desenvolvimento Emocional Primitivo. (Em outras palavras, este fascínio que é a relação mãe-bebê desde sempre, esse amor que não se explica, que de tão grande chega a doer.)
Escuto a teoria, passeio por Freud, Melanie Klein, Winnicott e acabo voltando no tempo. Um pouquinho de cada gravidez, o amor crescendo dentro de mim, a delicadeza de amamentar, olhos nos olhos, encontro de almas.
Volto à cena da sala de aula e escuto a professora falar dos objetos transicionais - os famosos paninhos, travesseiros, chupetas - recursos que as crianças encontram para enfrentar a angústia da separação com a mãe. Mãe que também é mulher, filha, dona de casa, profissional, entre tantas outras importantes titulações.
Aí danou-se. Levanto a mão e pergunto para a professora:
"- E quando o objeto transicional é a mão da mãe?!"
...
"Conheço uma menininha" que não deixou por menos. Ficou sem o cordão umbilical, perdeu o seio materno mas não abriu mão de uma ligação ainda mais concreta e humana com a mãe.
Mãe, mão, no final tudo é conexão.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

"All we need is love"

AMOR. Com todas as letras, nomes, endereços e sobrenomes. Amor de mãe, amor de pai, amor de irmão, amor de vô e vó. Amor tratado a pão-de-ló.
O amor que você recebeu. O amor que te faltou. Amor transbordante. Amor escasso. Descaso.
Amor em migalhas. Amor em conta-gotas. Amor caro. Amor raro.
Amor de bom dia. Amor que vira a noite. Amor de infância. Amor sem esperança.
Amor que brotou. Amor que morreu. Amor próprio.
"Love is all you need", não foi à toa que eles fizeram tanto sucesso.
Qualquer que seja a sua história, a sua busca, suas questões e andanças, essa é a música que eu escuto no seu olhar.

"Esse seu olhar"

Muitos são os olhares que vejo à minha frente.
Vejo dor, tristeza, angústia, medo, inquietude, saudade, decepção, incerteza.
Vejo também alegria, sonho, realização, serenidade, leveza.
Cada olhar uma história, um buraco, um pedido de socorro.
Cada olhar luz de lua, sol nascendo, chuva fina.
O olhar se coloca como espelho, retrato da alma, senha de acesso ao coração.
Mas de tudo que vejo e escuto, cada vez mais chego à conclusão de que o amor é a raiz de todas as coisas. De todas as faltas e todas as dores. Qualquer que seja esse amor.
E ele é tanto, que merece continuar no próximo post.
Leve o seu olhar até lá.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Filosofando

Penso, logo sinto.
Sinto, logo existo.
Existo a partir de mim.
A partir de você.
De um coração partido.
Da parte de um todo.
De um todo incompleto.
De um tempo que não acabou.
De uma esperança que nasceu.
De um sentimento que morreu.
De um olhar que diz tudo. E tanto.
De um vazio que grita.
De uma escuta que é ponte.
De um existir que é feito de sol.
E sombra.
E céu. E chão.
Pois não.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Bem-vindo à vida

Quem é que nunca chorou em público?
Quem é que nunca voltou atrás?
Quem é que nunca ouviu sermão?
Quem é que nunca teve uma decepção?
Quem é que nunca quebrou a cara?
Quem é que nunca sentiu ciúmes?
Quem é que nunca disse nunca?
Quem é que nunca teve bicho de pé?
Quem é que nunca pôs o sapato errado?
Quem é que nunca fez manha?
Quem é que nunca quis voltar pra barriga da mãe?
Quem é que nunca pensou em viajar sem rumo?
Quem é que nunca pensou em não voltar?
Quem é que nunca se escondeu?
Quem é você?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Infância

Quantos anos você tem?
Pode ser 15. 20. 30. 90.
Estou chegando à conclusão que, quanto mais distante da sua infância, mais próximo você está.
Pode parecer um paradoxo, mas é a mais pura verdade.
Olhe pra trás. Feche os olhos. Volte no tempo.
Como toda criança, você adorava brincar, correr, preencher o tempo de coisas boas. Coisas coloridas.
Mas como a vida não é só cores, algumas cenas foram tingidas de preto e branco.
Provavelmente você chorou. Sofreu. Ouviu coisas que não precisava ouvir. Levou susto. Guardou tristeza. Engoliu raiva. Acumulou poeira.
E aí você cresceu. Ganhou idade, experiência, responsabilidade. Enfeitou o rosto de máscaras e passou a ensaiar as palavras.
Mas aquela criança de outrora não morreu. Está bem aí, dentro de você, nascendo de novo a cada dia, brilhando os olhos, fazendo birra, pedindo colo.
Você não teve infância. Você ainda tem.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ciúmes pra cachorro

Se tem uma coisa que vem com a maternidade é flexibilidade. Haja jogo de cintura para lidar com a casa bagunçada, o joelho ralado, a cama dividida, o ciúmes entre irmãos, o para-casa suado. A gente dança conforme a música, faz a maior ginástica, vira "mulher elástico" e vai dormir exausta, mas com o coração cheio de graça, agradecendo a Deus e todos os anjos.
Voltando à flexibilidade, eu, que nunca pensei em ter cachorro em casa, me peguei outro dia pensando na real possibilidade de presentear os meninos com um Yorkshire. Isso depois que o Léo inventou de cuidar de um ovo como se fosse seu filho. (É claro que o ovo quebrou e ele, não se dando por satisfeito, pegou uma mexerica, pintou olhos e boca de canetinha e encasquetou que queria levar o "filho" pra escola).
Quebrando todos os paradigmas e colocando por terra minha rigidez sobre o tema, falei do cachorro. Fizeram a maior festa, como era de se esperar.
Passado alguns minutos, a Bella fez alguma arte da qual não me lembro. Só não esqueço o pequeno diálogo que travei com o Léo:
- O que que a gente faz com a sua irmã, Léo?
- Ah... Dá um "putibull" pra ela e um cachorro bem bonzinho pra gente!...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O bom filho à casa volta

Sempre tive orgulho de dizer que sou "filha da PUC".
Foi lá que me formei em Publicidade e Propaganda, os olhos brilhando, as mãos coçando para começarem logo a escrever.
Depois de mais de dez anos, volto à faculdade, cheia de alegria, para ministrar um minicurso de Redação Publicitária.
Tanto tempo e tudo no mesmo lugar: a alegria do prédio 13, o cheirinho de pão de queijo da cantina, a simpatia da secretária Suzana, a energia da Professora Glória, a criatividade dos meninos pulsando na veia.
Tem lugares que marcam a nossa vida de um jeito especial.
Qual é o seu lugar?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Você merece

Água na peneira.
Massagem no pé.
Aconchego de almofada.
Beijo roubado.
Colo de mãe.
Declaração de amor.
Chocolate da Kopenhagen.
Sessão de cinema.
Sais de banho.
................................ (Complete.)
Complete-se.
Você merece.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Dia arranhado

Tem dia que toca arranhado.
Você sai atrasado. Bate o joelho na quina da mesa. Fica preso no engarrafamento. Perde a paciência. Ganha uma multa. Prende o dedo na porta. Descarrega o celular. Briga com o melhor amigo. Quem dera um banho de descarrego no mar.
Graças a Deus não aconteceu nenhuma tragédia. Não tem ninguém no hospital. Você está são e salvo. Tudo na mesma ordem e lugar.
Apenas um dia arranhado. Um dia que vira noite. Uma noite que amanhece.
Já ouviu essa toada?
Vê se levanta com o pé direito.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Na vida tudo se transforma

Sempre acreditei na transformação. Dor em amor, tristeza em alegria, fracasso em sucesso, decepção em esperança, inércia em movimento.
Vejo, no consultório, pequenas grandes transformações acontecendo o tempo todo, na minha frente. Mudanças de postura, pensamento, sentimento; mudanças na forma de enxergar o outro e a si mesmo.
Há algum tempo venho acompanhando, em casa, uma transformação que, de tão grande, tinha que virar post: meu marido, que durante anos vivia correndo pra empresa, pro aeroporto, pras reuniões sem fim, acabou correndo na meia maratona do Rio de Janeiro. 21 km na raça, no peito, num dos mais belos cartões postais do país.
Sim, eu estava lá pra ver. Pra testemunhar sua alegria, sua vitória, sua garra e emoção.
Eu, que brincava que "seu nome era trabalho, seu sobrenome hora extra e seu apelido plantão", agora brindo a força dessa transformação.
Se já era sua fã, agora vou montar um fã-clube.
Parabéns, meu amor, por essa vitória que é minha também.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ainda está em tempo

Corre, corre, corre.

Pula daqui, salta dali.

Esconde-esconde.

Escapole o tempo.

Abarrota as gavetas.

Esvazia o tempo.

Preenche o tempo?

Ou passa o tempo?

Passatempo.

Vive.

Intensamente.

Apaixonadamente.

Faz cada segundo ter sentido.
...
Faz sentido?

"Desconfie de todos"

Uma senhora tricota uma blusa de lã enquanto sua neta assiste à TV, saboreando um chocolate. A avó entrega a blusa para a menina, que agradece feliz e a veste na mesma hora.
O detalhe é que a blusa ainda estava com a parte da cabeça fechada, e a menina acabou ficando "entalada", sem visão, derrubando tudo que aparecia na sua frente.
Enquanto a neta se desorientava, a avó devorava os chocolates.
Ao final do comercial, o slogan: "Novo Bis sabor avelã. Desconfie de todos."

Chocólatra assumida que sou, não comprei a idéia. Um exagero danado a menina derrubar tudo daquele jeito. Surreal a velhinha enganar a própria neta. Pobreza de espírito apelarem para a desconfiança, palavra tão pesada e negativa.
O novo Bis pode até ser uma delícia. O problema é que, se obedecer o slogan, até do chocolate você desconfia.

"Boadrasta"

Uma graça minha vizinha de apenas 7 anos.
Ao encontrá-la no elevador, falei:
- Vai lá em casa depois, Bárbara, brincar com o Léo.
- Hoje eu não posso, vou sair com a minha "boadrasta".
(...)