sábado, 28 de abril de 2012

Decisão importante

Semana passada dei com alegria uma palestra na Paróquia Nossa Senhora Rainha, no Belvedere, cujo tema era: "Relacionamento Conjugal. Fortalecendo os laços de amor através de atitudes e posturas construtivas."
Enquanto não dava a hora de começar, tomei um café na companhia de uma das atenciosas organizadoras do evento, Cristina Chiari, e fiquei vendo as pessoas chegarem aos poucos. Casais de namorados, noivos, casados; novos, de meia idade, de cabelo e sobrancelha brancos. Algumas poucas mulheres sozinhas, jovens em turma e, para minha supresa, algumas adolescentes (futuras casadoiras) cheias de brilho nos olhos.
Olhando o salão lotado - mais de duzentas pessoas, de perfis tão variados - fiquei pensando que coisa boa é ver que as pessoas ainda se mobilizam - e ao mesmo tempo se movimentam - para falar de amor. O tema está em voga, graças a Deus.
Mãos entrelaçadas, olhares atentos, braços acolhendo ombros. Foi nesse clima de juntidade, cumplicidade e abertura que a plateia me ouviu falar sobre casamento. Os sonhos, a rotina, as mudanças, os filhos, o envelhecimento conjunto.
Em determinado momento, perguntei a eles qual o segredo. O que faz alguns casais comemorarem bôdas de ouro, prata, diamante, confirmando o quanto o amor é possível? E foi logo ali, na fila do gargarejo, de um casal que já acumulou muito ouro, que escutei uma das respostas mais lindas: o segredo é a decisão de amar.
Perfeito. Não basta amar, é preciso que se tome essa decisão. E isso transcende a própria decisão de casar, subir ao altar, jogar o buquê ou partir o bolo. Significa, acima de tudo, a decisão de continuar amando, apesar de. Apesar das diferenças que são muitas, dos problemas que são grandes, dos inúmeros tropeços que surgem no caminho e que muitas vezes levam ao adoecimento do amor. A decisão de amar transcende também todas os outras respostas-clichê que já tenham sido ditas sobre o assunto: paciência, amor, perdão, tolerância (que, com certeza, também são segredos que todo mundo deveria saber e pôr em prática).
Depois da reposta do Ildeu e da Maria Lúcia, recebida com aplausos da plateia, minha missão estava praticamente cumprida.
Se os casais não saíram de lá sob chuva de arroz, com certeza saíram refletindo sobre esse arroz que completa o feijão todos os dias, temperado com amor, poesia, encantamento e aquele que talvez seja um dos ingredientes mais importantes: sabedoria.

sábado, 21 de abril de 2012

Botox

A mãe dela morreu.
Assim que ouviu a notícia, chorou compulsivamente, fez uma ligação rápida e saiu cantando pneu. Em cinco minutos estava no salão de beleza, se desmanchando diante do espelho. Quem via a cena se perguntava se o problema era por causa da tinta ou do corte.
[Corta].
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Manhã de sol, piscina da academia cheia, aula de hidroginástica. Colocou o maiô e a touca de banho amarela, estampa de florzinha. Do alto dos seus 80 anos, ainda tinha muita água pra rolar. (Rolou.)
Implicou com a "jovem" de quase 40 porque ela estava batendo a perna muito forte, espirrando água. Ia molhar seu cabelo.
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Os dois miniposts seriam ficção se não fossem verdade. Aconteceu, acredite.
O primeiro eu ouvi contar. O segundo eu vi, presenciei, vivi. Era eu a "jovem" de 40 anos, espirrando água pra todo lado. (...)Só me confirma uma coisa: a aula era de HIDRO, certo? Se não mudou nenhuma regra de semântica, hidro significa água, certo? Ah, bom, achei que eu tivesse perdido o senso de juízo. Nada contra a vaidade, a maquiagem, o perfume, os cabelos bonitos. Sempre gostei de um espelho. Mas muita gente anda se preocupando em demasia com a estética que vai na superfície, e se esquecendo da beleza que pode ir na alma. A beleza de se concentrar apenas no simples, no essencial, no que faz sentido naquele momento. Seja a DOR da mãe que acaba de morrer ou a enDORfina de jogar água pro alto, colocando alegria pra dentro.
Você pode, sim. Trocar o batom por beijo, salto alto por havaiana, escova progressiva por aprendizado progressivo. Pode empalidecer, descabelar, viver o que tiver que ser vivido. Seja de cara ou alma lavada, a verdadeira beleza está em ser inteiro. Não há colágeno, botox ou shampoo importado que faça isso por você.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O blog vai virar livro

Cresci no meio dos livros.
Filha de escritora, sempre li nos olhos dela sua paixão por ler e escrever.
Um dos nossos programas favoritos era ir à Editora Miguilim, na Savassi, comprar meus "brinquedos" prediletos. Saía de lá com uns dez títulos, cada um de uma cor e um autor diferente, todos com um cheirinho inconfundível.
Quando chegávamos em casa, ela me falava para escolher um - o resto escondia no armário, para eu saborear um de cada vez, alimentando a expectativa de qual seria o próximo. Quanto mais eu lia, mais eu queria ler. Era acabar uma história pra começar outra, garantia plena e absoluta de felicidade.
Quando a professora de português do primário pediu à turma para montar a biblioteca da sala, cada um contribuindo com um livro, levei 41 e ganhei prêmio: um livro de receitas em forma de poemas da Cecília Meireles, que eu saboreio até hoje nas minhas memórias.
De tanto ler, passei a brincar de escrever.
Cartas, cartões, declarações de amor.
Concursos de poesia, anúncios publicitários,
resenhas acadêmicas.
Pagando a língua veio o blog, incentivo cem por cento do marido, cem por cento antenado no universo digital.
Com o blog veio você, que me dá a honra e alegria de me ler a cada post.
E do blog, muito em breve, virá o livro. Quase já indo pro forno, feito com todo o carinho pra você provar.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Aceitação

Aceita um café?
Cineminha no final da tarde?
Baile de formatura?
Aceita um elogio, moça bonita?
Trabalhar numa pousada em Tiradentes?
Balinha pra adoçar a vida?
Aceita esse moço como seu legítimo esposo?
Quem sabe um cadinho de bolo?
E quando o tempo fechar, aceita um pouco de chuva?
Céu cinzento, lamento.
Ombro amigo, plantão 24 horas.
Rugas de expressão, aceita?
Incompatibilidade de gênio, sim ou não?
Briga de irmão.
Silêncio e sermão.
A vida é assim, desculpe a franqueza.
Mas também é uma beleza.
Pamonha, pamonha, pamonha.
Quem vai querer?
Pára de brigar com o que você não pode mudar.
Aceitação, diz o refrão.
Aceita-ação, meu irmão.
A-CEI-TA-ÇÃO, Conceição.
Aceita?
Sim ou não?