terça-feira, 10 de junho de 2014

O blog está de casa nova: www.renatafeldman.com.br



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terça-feira, 20 de maio de 2014

Último suspiro


Impressionante o tanto de voltas que o mundo dá. Voltas e mais voltas, se quer saber.
Coisas que você imagina já bem definidas, resolvidas, vem à tona muitas vezes de um jeito inexplicável. Inacreditável. Seja no amor. No trabalho. Nas relações mais espinhentas e delicadas. Nas amizades ditas infalíveis. No famoso "e foram felizes para sempre". No mais taxativo dos nãos. No mais convidativo dos sins. Nada é fixo, imutável, a vida segue e quase tudo se transforma.
Muito tempo se passou desde o fatídico e doloroso "The End" do post anterior. Eu nem ia voltar mais neste assunto, c'est fini, já havia dado por perdida a história daqueles dois, mas aí veio o destino para dizer quem é que está no comando. Ah, as voltas que o mundo dá.
Marina seguiu sua vida, como tinha que ser. Bonita e inteligente como era, não demorou a despertar olhares, sorrisos, afetos. Arrumou um namorado também bonito, bom partido, dez anos mais velho.
Diego voltou de Paris com a bagagem cheia de conhecimento, experiência, talento. Alçou vôos lindos na carreira e se tornou um doutor consultor. Nada de namorada, apenas rolos, ficantes, encontros casuais, nada além disso.
Nunca mais se falaram, Diego e Marina. As famílias de cada um quase morriam de tristeza (as mães nem se fala) de ver aqueles dois separados, tamanha era a torcida e o envolvimento desde cedo, desde sempre.
E foi aí que um folheto de propaganda distribuído no sinal mudou tudo. Luz amarela - pense, luz vermelha - pare, luz verde - siga. Simples assim, e foi numa dessas paradas que enfiaram pela janela do carro do Diego um anúncio cheinho de alianças de noivado. Uma mais bonita que a outra. Seria um sinal?
Numa fração de segundos, ele pensou em Marina. No que foi. No que poderia ter sido. No que já não mais era.
E foi bem naquela hora do rush, voltando pra casa depois de um dia cheio de trabalho, que Diego mudou a rota e a história. Em menos de vinte minutos estava dentro da joalheria, comprando o par de alianças mais valioso da sua vida.
Atrevido aquele menino. Já em casa, namorando a caixinha preta de veludo, pegou o telefone e ligou para Marina. Disse, sem muito rodeio, que precisava conversar com ela. Marcaram para daqui a três dias (haja ansiedade), num restaurante perto de um shopping bem familiar.
Mais uma vez não houve rodeio. Nem mesmo aquela função fática que um dia você aprendeu na aula de português, tipo: "Como tem chovido, hein?..." Direto ao ponto, sem rodeio nem subterfúgios, atrevido esse menino. Quase matando Marina de susto, tirou a caixinha do bolso e fez "na lata" o pedido convencional, esperado por tantas mulheres, já não esperado por Marina:
- Quer se casar comigo?
Coitada da moça. Empalideceu de susto, emudeceu, chegou em casa aos prantos, deixando a mãe atônita e o ex-namorado com a expectativa de uma resposta, um dia.
Nada desse dia chegar. Nem que sim nem que não, a posição de Marina era um mistério. A família de Diego não falava noutro assunto, a polêmica se instaurava nos almoços de domingo, até bolão chegaram a fazer.
- Ih, Diego, desiste, ela não quer mais nada com você.
- Ih, conheço as mulheres: hora da vingança. Esquece, Diego.
- Calma, gente, é claro que ela vai aceitar, deixa de ser pessimista!
- É. Se ela não falou na chincha que não, é porque você mexeu com ela. Prepara o casório que lá vem notícia boa!
E assim, de especulação em especulação, de sim em não, o tempo foi passando. Até que um dia, uma mensagem no whatsup:
- Diego, não entenda meu silêncio como um não, apenas preciso pensar mais, esfriar a cabeça e acalmar o coração...
Compreensivo e sereno, certo de que aquela mulher nasceu pra ser sua, Diego esperou. Esperou. Esperou. Esperou.
Até que um dia foi tomar um chope com um tio querido e ganhou de quebra o empurrãozão que faltava:
- Vai ficar esperando até quando, velho? Vai lá agora, chega junto, leva ela pra jantar e volta só amanhã depois que o sol raiar. Bora.
- Mas tio, são quase dez horas da noite, estou sem carro e ela já deve estar de pijama.
- Toma a chave do carro, liga pra ela e fala que você está na porta.
Simples assim. Louco, ousado, atrevido, apaixonado, convicto assim.
Quer saber? Foi a noite mais linda da vida daqueles dois. Graças a Deus, ao destino, ao amor, ao cosmos, ao tio parceiro, o idílio voltou com luz, certeza, poesia e encanto.
A última notícia que tive é que compraram um apartamento e vão se casar. Bem-casados, bem-felizes, bem-sintonizados com a força que as coisas têm quando têm que acontecer.
E é assim, com essa emoção toda, que o fim vira começo. Que o último suspiro vira apenas o primeiro de muitos outros. Longos "ai ais" de vida, de amor que ressuscita como milagre, fazendo renascer tudo outra vez.
Ah, as voltas lindas que o mundo dá.

terça-feira, 6 de maio de 2014

The end


Bem-vindo a Paris. Cidade das luzes, suspiros, sonhos, encantos. Cidade divisor de águas na vida de Diego e Marina, encantados que também eram um pelo outro.
Ele de lá, ela de cá, mais uma viagem pra contar a história.
Mas o que seria "mais uma" viagem se tornou "a" viagem. Um quê de agitação, desencontro e distanciamento ia compondo a paisagem, sutil e delicadamente.
Marina de cá percebia, movida talvez por seu sexto sentido, esse acessório que as mulheres usam tão bem.
Diego de lá se movia, se surpreendia, enaltecia com paixão cada minuto de sua nova cidadania. Montmartre, Saint Germain, Marais, Champs Elysées, Quartier Latin, Saint Michel. Pés pra bater, cabeça pra pensar, coração pra sacolejar, rachar, partir.
Às vezes Diego prometia ligar e não ligava. Às vezes um e-mail enviado por Marina ficava dias adormecido
na caixa de entrada, sem virar resposta.
"Ele não deve ter tido tempo", justificava Marina para si mesma.
Estudando e estagiando, as prioridades eram outras. Foram levando assim durante cinco meses - mais um e ele voltaria para o Brasil. Não voltou. O estágio ia de vento em popa e ele foi convidado - danado que era - a prolongar a viagem por mais seis meses.
Foi a deixa (ou gota d'água) para Marina separar suas economias, arrumar as malas e ir se encontrar com o namorado na cidade-luz. Não foi.
De um jeito ou de outro, nos seus sumiços e entrelinhas, Diego disse a Marina que era melhor ela não ir.
Na cabeça de Diego: se ela fosse, acabariam vivendo um casamento que ainda não existia. Ela era a mulher da sua vida, mas aquele era um outro momento, focado no estudo e carreira; ali ele se sentia independente, autônomo, responsável, capaz de vencer desafios e abraçar o mundo, respirando o auge da sua juventude.
Na cabeça de Marina: Como assim? Afinal, nosso namoro não era forte o suficiente para aguentar o tranco? Não era amor de verdade o que sentíamos um pelo outro?
Não se tratava de amor, Marina. Mas de contexto, mudanças, logística, liberdade, hormônios, Paris e seus encantos.
Por um fio a relação estava, por um fio ficou.
O que começou como uma linda história de amor acabou pelo telefone. Em poucas palavras, ruindo por dentro, Marina teve que oficializar o que Diego não deu conta de fazer.
Acabou, c'est fini, c'est la vie, fim.
Quem nunca viveu uma história parecida que atire a primeira flor.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Idílio Parte III


Ah, Bordeaux. Lagos, flores, castelos, vinhedos, pôr do sol rosado. Só faltava uma coisa para essa linda cidade ficar completa: Diego. Algo estava definitivamente fora do lugar: Marina na França, o namorado no Brasil, um oceano inteiro de saudade entre os dois. Ah, como doía. Os emails eram enooooooooooormes, e o Skype ficava conectado uma eternidade.
As notícias que chegavam dos amigos e da irmã de Diego eram uma só: "Ele está curtido a maior fossa. Triste, sozinho, faltando um pedaço."
Au revoir, Bordeaux. Voltar seis meses depois foi um grande alívio, uma emoção sem tamanho. Depois de beijos, abraços, apertos e declarações de amor, um jurou ao outro que nunca mais iria ficar longe tanto tempo. Poderiam até estudar e trabalhar na China, Etiópia ou Japão, mas iriam juntos.
E aí vem o destino, mais uma vez, bagunçar tudo. Um mês depois que Marina havia chegado, ainda em clima de matar saudade, Diego é chamado para preencher uma vaga de intercâmbio - bonjour! - também na França, daí a cinco meses. Ele havia se candidatado no ano anterior, não conseguiu a vaga, a pessoa que ia desistiu, ele foi acionado. Oui. Ironias do destino, nada é por acaso, qual mais explicação você daria?
A namorada custou a acreditar que aquilo estava acontecendo, como podia acontecer? Logo depois que juraram um para o outro não ficarem longe nunca mais?
Mudança de planos, c'est la vie. Diego ficou desorientado de alegria, ia abraçar a oportunidade tão sonhada, Marina não se sentia no direito de ficar triste. Afinal de contas, um ano antes era ela que havia passado pela mesmíssima situação e ele não arredou pé do seu lado: apoio permeado de compreensão, torcida e afeto.
Reunindo forças, chorando por dentro, Marina entrou na sintonia de felicidade e euforia de Diego até a viagem acontecer.
Antes dele partir fizeram uma linda viagem para o Rio, idílio de despedida, a cidade maravilhosa ficou pequena para caber tanto amor.
Fato é que Diego arrumou as malas e se foi. Como não ir, afinal? Tão novo, tão capaz, tão em busca de formação, profissão, brilho nos olhos? Foi carregando Marina com ele, na cabeça, na alma e no coração.

* Belo Horizonte e Paris, tão longe. No próximo post.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Idílio Parte II


Viraram muitas páginas juntos, aqueles dois. Futuro do pretérito, fotossíntese, reações químicas, osmose, geometria.
Com o tempo se transformaram, se enamoraram, foram metamorfoseando amizade em amor, quase sem perceber.
A afinidade das salas de aula se estendia naturalmente para outros locus: nas festas juninas do clube, quando se adivinhavam no correio elegante; nas sessões de cinema, quando suas mãos se encontravam no saco de pipoca; no aconchego da sala de casa, quando eram acolhidos com alegria e pão de queijo pela família de cada um, despretensiosamente.
E foi assim, sem se darem conta, sem nomear ou protocolar o sentimento, que Diego foi entrando no mundo de Marina como se ele já fosse seu há muito tempo. E vice-versa.
Aos 14 anos, um primeiro beijo roubado na porta de casa trouxe muitos outros beijos presenteados, gratuitos, inventados. Corriqueiros, festeiros, juninos, sem data ou hora marcada. Sempre que a oportunidade fazia o convite, eles aceitavam de bom grado.
Aos 18 anos, a conquista da carteira de motorista e o carro emprestado do pai possibilitaram a Diego ampliar os convites. Aos 19, a vitória do vestibular trouxe mais motivos de comemoração, e eles sempre eram vistos saindo juntos e frequentando mais vezes a casa de cada um. Mais fornadas de pão de queijo e alegria, pipoca no escurinho do cinema, todos os motivos do mundo para carpediar a vida. Entre um encontro e outro, Diego e Marina se faziam presentes através do celular, com trocas de mensagens inspiradas em letras de música romântica.
Não eram namorados ainda. Ou melhor, não eram nomeados assim, nascidos que foram em uma era marcada pelo verbo ficar, desprendido de compromisso e vínculo. Mas foram ficando cada vez mais grudados, envolvidos, sintonizados, e numa chuvosa noite de março viraram namorado e namorada, oficialmente falando.
Com um ano e meio de namoro ele foi para o Canadá, em um intercâmbio de três meses. Marina, que já havia passado pela mesma experiência três anos antes, respeitou o momento dele e sugeriu que dessem um tempo. Ele aceitou.
Mas que tempo é esse que corre pelas vias do amor? Foi o tempo que passou devagar, doído de saudade, e que acabou mantendo os dois em contato, até presentes de Natal trocaram a distância.
Quando ele voltou, a sintonia tinha crescido e a convicção era uma só: não havia a menor dúvida de que eles queriam ficar juntos.
Seis meses depois, outro intercâmbio, dessa vez para Marina. Destino: Bordeaux, na França. Coração: doído, moído, como ficar longe dele por tanto tempo, sem nem direito a visita pra matar a saudade? Cabeça: madura, bem-resolvida, a dos dois. Como já haviam passado pela experiência do Canadá antes, se sentiam minimamente maduros para continuar o namoro, só que agora a distância.

Aguarde cenas do próximo post.

sábado, 26 de abril de 2014

Idílio Parte I


Começaram cedo aqueles dois. Compartilhando histórias, cadernos, lápis, risadas, apontador. Descobrindo mapas, espaços, sístoles, diástoles, revoluções. Resolvendo problemas de matemática e recitando poemas de Vinícius de Moraes,
essas coisas tão distintas que a vida se encarrega de juntar.
Diego na fileira do canto, Marina na carteira ao lado.
- Presente!
- Presente!
Na energia inconfundível dos seus onze anos, também presentes se faziam no recreio, na quadra, na cantina, no pique-esconde, nas festinhas de aniversário.
Abram o dicionário e lá está ela, impecável:
"afinidade: s.f. conformidade, aproximação, relação, simpatia: afinidade de gostos, de caracteres; afinidade entre a música e a poesia."
Simples de explicar essa amizade que nasceu espontânea, faceira, inteira. (Quem é que não tem um grande amigo pra lembrar?)
Música e poesia, ainda não inventaram conceito melhor de completude.
Diego e Marina, ainda não inventaram idílio tão bonito. E verídico, diga-se de passagem, mas com os nomes trocados, me autorizaram contar por aqui.
Aguarde o próximo post.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Encontro


Se você se encontrasse com Deus, o que ia dizer?
Palavras, interrogações, vírgulas, linhas,
reticências, entrelinhas, qual seria a pauta?
Qual o tamanho da emoção, do abraço,
da lista que nunca falta?
Quanto de choro teria para chorar?
Quanto de alegria para agradecer?
Quanto de você para renascer?
Um tanto enorme de coisas sem explicação
para entender,
várias perguntas sem respostas.
Nem mesmo as mais completas teorias,
filosofias, ias e mais ias.
Quantas mais Marias, cheias de graça e vida,
você clonaria se pudesse?
Cruz pesada para carregar.
Coluna envergada de tanto doer.
Tem gente que anda torto de sofrer, meu Deus.
Tanta ferida aberta pra curar.
Tanto verbo amar pra conjugar.
Mas nesse encontro, luz. Alento.
Filiação. Silêncio.
Serenidade. Esperança.
Paternidade. Calmante.
Quando tudo parecer mudo, inerte, escuro,
ainda há velas para acender.