terça-feira, 23 de julho de 2013

AMORversário


Então você nasceu. Eu ainda não era desse mundo, mas com certeza participei com emoção do seu "bota-fora", já deixando um encontro marcado para anos depois. Cercado de anjos e estrelas você foi notícia linda numa noite de 23 de julho. Foi rapa do tacho numa família abençoada de quatro filhas, bênção ainda maior se viesse um menino. Veio. Você, cheio de luz e encantamento, posso apostar que chegou ao mundo com um riso gostoso, ao invés do tradicional choro. Seu nascimento fez tocar uma orquestra inteira dentro do seu pai e da sua mãe, sinfonia de alegria.
Hoje tem bolo de chocolate, velas acesas, risoto de camarão, mousse de maracujá, brigadeiro com flor de sal, mar cheio das melhores energias. Hoje tem riso, cantoria, torcida, balões em preto e branco, colorido melhor não haveria. Hoje é como se o Galo já estivesse carregando a taça.
Mais que aniversário, você faz diferença na vida da gente. Faz da felicidade palavra nada abstrata. Faz da sua alegria meu presente. Seu nascimento marcou, muito mais que o calendário, meu mundo, minha escrita, minha rima, toda uma existência.

domingo, 14 de julho de 2013

Torcida


Não entendo muito de futebol. A única vez que fui ao campo foi para fazer um trabalho de antropologia da faculdade, com um bloquinho na mão, de costas pro jogo, observando o comportamento da torcida.
Tenho em casa motivos de sobra para ser perita no assunto: um marido apaixonado pelo Galo, um filho que chora de emoção quando ele faz gol, uma filha que ficou "amiga" do Bernard.
Meu avô, se visse isso, ia estribuchar: antes de se tornar médico pneumologista, antitabagista ao extremo, foi artilheiro do Palestra Itália, atual Cruzeiro.
Mas a vida é assim mesmo. Para não dar espaço para a concorrência, o Dé mandou fazer um quadro assim que o Léo nasceu, e já na maternidade todo mundo lia: "Papai, obrigado por eu ter nascido atleticano." (Desculpa, vô, mas tive que aderir à torcida.)
Não entendo muito de futebol mas trabalho apaixonadamente com as emoções. Perdas e ganhos, alegria e tristeza, medo e coragem, derrota, vitória e tantas outras dicotomias passeiam diariamente no meu consultório. Na estante, potes de vidro carregam pedras coloridas, cada um com um rótulo: AMOR, ALEGRIA, PAZ, ESPERANÇA. Para este último, cheio de pedras verdes, costumo apontar o dedo quando vejo à minha frente olhos vazios de crença, esvaziados de esperança.
Sem muito entender de pênaltis, faltas e arbitragem, no último jogo histórico do Galo contra o Newell's Old Boys fui tomada pela emoção que tomou conta do estádio. Um torcedor atirou ao campo um terço que o goleiro Victor ajeitou no cantinho do gol. Um técnico aflito carregava Nossa Senhora estampada no peito, sem saber que era Ela que o carregava. A energia caiu, fazendo elevar a vibração da torcida com o refrão mais lindo e comovente de todas as torcidas: "Eu acredito! Eu acredito! Eu acredito!"
E dessa energia fez-se a luz. Da luz fez-se a emoção da vitória. Da vitória fez-se a confirmação do tanto que é preciso acreditar na força que as coisas têm quando precisam acontecer.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Olhos que falam

Conheci Tia Vera na piscina.
Paparicadeira feito ela só, virou logo tia do Léo, entusiasmada em ver o pequeno (na época com três anos) dar seus primeiros pulos e braçadas. Enquanto ele aprendia a nadar, a gente aprendia a ter mais qualidade de vida na aula de hidroginástica. Um perfeito "dois em um" para mães que querem cuidar dos filhos sem descuidar de si, driblando o relógio.
Valeu a torcida, Tia Vera. Hoje o pequeno já não é mais tão pequeno, treina na equipe e se alegra com cada medalha.
Sigo firme com ela na hidro, jogando água pra cima e recarregando as baterias.
Faladeira feito ela só, de um coração do tamanho de um trem, Tia Vera faz "ginástica intercomunicacional": fala disso, daquilo, daquilo outro. O professor muda a perna e ela ainda está no braço, contando e recontando causos, histórias, o capítulo da novela e o drama da empregada. Dá notícia de tudo, de todos, com uma alegria contagiante e um sol brilhando dentro dela.
Quando Tia Vera falta, a piscina fica vazia e o tempo nublado. A aula até rende mais, mas fica bem esquisita.
Leitora assídua do blog, outro dia me pediu sem cerimônia:
- Renatinha, faz um post pra mim?
Dia desses ela me deu motivo.
Aprendiz de fotografia, apaixonada por criança, quis treinar uns closes com o Léo e a Bella pra ir montando seu portfólio. Levei minha afilhada junto e nos divertimos na Praça da Liberdade, em meio a brincadeiras de roda, ioiô, esconde-esconde. Pedi ao vendedor de algodão doce sua haste cheia de nuvens coloridas e lá fui eu distribuindo alegria na praça.
Pela primeira vez, vi Tia Vera em silêncio. Cada segundo era um clique, um momento, um sorriso que ela não deixava escapar.
Quando me enviou as fotos, entendi o significado daquele silêncio tão contrastante com a faladeira mulher da piscina.
A Tia Vera da praça mergulhou na emoção de um ofício que faz a alma falar mais alto. A emoção de capturar momentos únicos, preciosos, que não voltam mais.
Por trás da câmara, Tia Vera em silêncio cantava, orava, catava instantes de vida em movimento.
Para que palavras se os seus olhos diziam tudo?
Música, poema, poesia: isso é o que mais escuto no silêncio que vem dos seus olhos cheios de brilho, Tia Vera.