terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Jogue suas tranças

"Enrolados" é mais um filme da Disney liberado para maiores de 18 anos. Versão moderninha do clássico Rapunzel, a animação nos convida a pensar em questões que não são prerrogativa dos contos de fadas.
No filme, uma bruxa prende a princesa no alto de uma torre dizendo que a ama demais. Que o mundo lá fora é muito perigoso, cheio de bandidos, animais selvagens, homens malvados. A nariguda cumpre direitinho o papel de mãe superprotetora, aprisionando a  sonhadora princesa com as suas preocupações excessivas.
Às mães que vestiram a carapuça, ainda está em tempo de tirar. Tirar de cabeça o medo exagerado, a preocupação neurótica, a proteção paranóica. Filho precisa de liberdade, mãe. Até mesmo para cair, machucar, levantar e cair de novo se preciso for. É assim que os pequenos crescem fortes e sadios, algo assim bem parecido com um slogan de achocolatado. É assim que viram gente grande, mãe.
Mas não precisa ser mãe pra prender numa torre, quase dentro de uma bolha. Saindo da maternidade pra relação a dois, homem-mulher, não é difícil encontrar bruxos e bruxas que adoram aprisionar seus parceiros, transformando-os em propriedade, tesouro com certificado de garantia, posse que vale ouro. Ciúmes dali, condições acolá e o relacionamento vira um verdadeiro inferno.
"Rapunzel, jogue suas tranças." Pelo amor de Deus, Rapunzel. Rápido. Vai conhecer a liberdade, o chão, a aventura, o amor de verdade. Vai.

domingo, 23 de janeiro de 2011

O último beijo

Viver intensamente, apaixonadamente, é esbarrar na possibilidade concreta da finitude.
O último beijo. O último olhar. O último telefonema. O último almoço. O último vôo. O último encontro. O último abraço. O último colo. O último passo de dança. O último papo.
Fim. Interrupção. Acabou.
Pensar nisso quando se tem a vida inteira pela frente é criar asas para abraçar o que se pode dessa vida. Por isso, beije bastante. Olhe até ficar com a vista cansada. Diga alô. Bom apetite. Boa viagem. Ótimo encontro. Terapia do abraço. Colo de mãe. Passos leves de bailarina. Tchau. Te amo. Cuide-se bem.
Que a vida - que é tão curta e cheia de surpresas - seja vivida com intensidade, apaixonadamente, como se cada dia fosse uma bonita despedida do que se viveu.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Amor de sempre

Falo do amor verdadeiro, que transcende o tempo e acende luz na escuridão. Do amor sem pressa, sem rodeios. Do amor sem cobrança, que deixa tesouros de herança. Do amor genuíno, capaz de segurar o vento. Amor que não é derrubado com a enchente, amor que transforma tsunami em casa com rede e varanda pra descansar.
Falo do amor dos poetas e dos pés no chão. Do amor que enche a alma e completa os espaços vazios. Do amor que vem do silêncio, da quietude, da xícara de chá num tempo frio.
Falo do amor que não quer ser igual, nem idêntico. Do amor que chama no meio da noite, do amor que é fabricado com amor.
Desse amor que fica. Que sobrevive. Que permanece inteiro apesar dos pedaços partidos.
Amor que a gente sente, simplesmente. E que nem precisava gastar tanta palavra pra explicar.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Angústia

Bolo no estômago, dor no peito, noites em claro. Quem nunca teve angústia que respire aliviado.
Quando ela vem, não avisa nem pede licença. Arromba a porta da alma, paralisa os seus passos,  fica fazendo ronda dentro de você.
Angústia porque o seu filho foi para uma balada e ainda não voltou. Angústia porque o seu pai não te entende. Angústia porque você ainda não sabe o que vai ser quando crescer. Angústia porque está se sentindo um estranho no ninho. Ou porque o ninho está vazio. Porque se sente sozinho. Dividido. Sem rumo nem prumo. Angústia porque você precisa tomar uma decisão, dar um jeito na vida.
Ou simplesmente angústia por não saber o motivo dessa taquicardia, dessa sensação estranha de não estar no seu lugar. Angústia existencial, você com certeza já ouviu falar. Angústia simplesmente por acordar, ser, sentir. Algo físico, visceral. Dor de existir.
O que você faz quando se sente assim?

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Bôdas de ouro

Já inventaram Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Rodin e Camille, Popeye e Olívia Palito. Histórias famosas marcadas pelo impacto do amor romântico, trágico, enlouquecedor, melodramático. Estão aí para dizer da força desse sentimento chamado amor. Estão aí para nos falar da forte atração que liga um homem a uma mulher.
E aí "inventaram" Luci e Homero. (Se eles não existissem, eu ia ter que inventar. Juro que ia.) 
No último dia 31 de dezembro, em meio aos fogos de artifício, flores para Iemanjá e pedidos de um bom Ano Novo, eles completaram 50 anos de casamento.
Casamento com todas as letras, cinco filhos, dez netos e uma história bem real  construída dia após dia. Nada de ficção, teatro ou invenção. Apenas amor e tudo o que essa pequena palavra representa: brilho nos olhos, coração cheio, bom dia, boa noite, diferenças e mais diferenças.
Ah, as diferenças. Ah, a paciência e todos os outros substantivos que permeiam esse amor de carne e osso: tolerância, compreensão, cumplicidade, sabedoria, saber ceder.
Esse é o amor da labuta, que não está nos livros nem nas mentes mais românticas. É o amor do dia-a-dia, da peleja, do trabalho. Trabalho árduo, constante. Amor bonito de doer, não tão simples de viver. Amor que emociona, sustenta, explica tudo. Amor que soa como prece quando a família inteira se junta no Natal para cantar "Como é grande o meu amor por você", cada um entregando um botão de rosa ao casal.
Luci e Homero: o nome é forte, sonoro, um quê de clássico e histórico. Daria um livro essa história que já dura uma vida inteira.
Que venham mais 50 anos, cheios de luz e flor para regar a beleza desse amor.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Imperfeição

Não se iluda.
Você não vai ter um namoro perfeito.
Um casamento perfeito.
Um tico-tico no fubá perfeito.
Aposto que o seu emprego não é perfeito.
Nem o seu chefe.
Nem seu amigo. Muito menos seu tio.
Sua empregada é tudo menos perfeita.
E nem adianta reclamar. A sua mãe também não é perfeita.
Seu pai, seu irmão, seu vizinho, seu filho.
Nada de esmalte perfeito. Nem vestido ou calça jeans, esquece.
Esse blog não é perfeito.
A balança é mais que imperfeita.
O prefeito não é perfeito.
Nem o padeiro, o dentista, o fazendeiro.
Sua casa é tudo, menos perfeita.
Sua família é maravilhosa, mas não é perfeita.
Perfeição rima com frustração.
O imperfeito é feito para você aprender a crescer.
(Mesmo que a contragosto.)
Experimenta esse gosto.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Minhocas parte 2

Ah, minhocas. Vão chegando de mansinho, deslizando lentamente, e quando você vê, fazem um ninho na sua cabeça. Foi assim com a Lucíola e é assim com a Fabíola, Maria, Patrícia, Rafaela, João, Frederico, Antônio, Rosa, Marcela...
Por mais levinhas que sejam, as minhocas parecem ter mais peso na mente feminina. Os homens não costumam perder muito tempo com esses "insignificantes" seres invertebrados (a não ser quando o assunto é uma boa pescaria).
O que tenho visto de minhocas não está no gibi. Está na cabeça do ser humano, se enroscando com os neurônios, fazendo mil perguntas, cutucando daqui e dali, perturbando sem a menor cerimônia.
Pensar, sentir, ter as percepções mais variadas sobre a sua vida faz parte. O problema é quando tudo isso se confunde com minhocas. Quando você pensa mais do que deve; interpreta o que são simplesmente fatos; aumenta o tamanho das coisas; enfim, acaba criando um capítulo de ficção na sua vida.
E sabe o que mais acontece? Você acaba alimentando as malditas minhocas. Quanto mais "pensa", mais elas se reproduzem e multiplicam. Aí é uma minhocada só.
Experimente parar de alimentar os bichinhos que eles vão embora, atrás de outra cabeça pra importunar.     Ah, e se me permite, Lucíola, vai namorar, vai "carpediar" a vida. Beijos, abraços e declarações de amor são um excelente antídoto contra minhocas.