quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Minhocas

Preocupada, roendo as unhas, Lucíola pôs-se a caminho do consultório de neurologia. Sua cabeça pesava de tanto pensar. Muitos pensamentos, um atrás do outro, se enroscando de forma confusa e acelerada. Tais pensamentos não diziam respeito apenas ao resultado da tomografia computadorizada que ela ia buscar. Junto à preocupação de ter um tumor no cérebro vinham outras questões, não tão graves e urgentes:
- Será que o namoro vai dar certo?
- Será que não está muito cedo pra conhecer a família dele?
- E aquela tatuagem no braço, o que que a minha mãe vai pensar?
- E se o namoro atrapalhar os meus estudos?
- E se ele só estiver querendo sexo?
- E se me enrolar vinte anos?
- E se me trair com a minha melhor amiga?
- E se, e se, e se?
Nesse exato momento, Lucíola ouve a voz da secretária:
- Lucíola Fernandes? Pode entrar.
Interrogatório interrompido. A pobre moça entra no consultório e encontra um Dr. Júlio um tanto quanto  abatido, preocupado.
- É grave, doutor?
- Fique calma, Lucíola. Não se trata de tumor nem aneurisma, mas é caso de cirurgia, e rápido.
  Sua cabeça está infestada de minhocas.
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[Continua no próximo post. ]

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Feliz Nascer

Deixa nascer o amor.
Desperta a alegria adormecida.
Nina a esperança.
Embala o sonho.
Pede perdão.
Perdoa.
Abre janelas.
Abre caminhos.
Deixa o amor nascer.
Deixa a realização crescer.
Apaga a luz.
Acende a vela.
Enche de luz a sua vida.
Feliz Natal, Feliz Você,
Feliz de mim que tenho você como presente.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pausa importante

Depois de sete anos, encerro um ciclo importante da minha vida. Um ciclo feito de trocas, ensinamentos, aprendizado.
Dar aulas era dar um pouco de mim a cada um dos meus alunos. Era encher o quadro da palavra realização. Era transformar erro em acerto. Era temperar com "pimentinha" o arroz com feijão.
Era seguir cronogramas, aplicar provas, exigir o máximo, não economizar na saliva e  no coração.
Levo comigo os alunos que tanto me ensinaram. Levo comigo os colegas que se tornaram eternos amigos. Levo comigo a paixão que rima com educação (herança do meu avô e da minha mãe, com quem tanto aprendi também).
Encerro este ciclo junto de alguns colegas muito especiais e queridos, a última leva dos professores mais antigos da Estácio: Marina Sepúlveda, Lamounier, Dulce, Pat Pinho. Que possamos nos reencontrar em outros ciclos, em outras possíveis travessias.
A todos que compartilharam comigo desta jornada, o meu muito obrigada e meu imenso carinho.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mudança

Operação esvaziar gavetas. Encher a alma de sonhos. Pensar no que foi, no que passou e no que poderia ter sido. Olhar pra frente com olhos de quem não quer apenas enxergar. Quer ver e viver. Viver com leveza,  mochila leve, carregando apenas o essencial. Sem trequeiras, chieiras, essas coisas tolas e desnecessárias que só envergam as costas.
Caminhar, enfim. De um jeito novo, genuíno, a sua cara.
Papéis velhos no lixo. Manias velhas bye-bye. Afunda o pezinho na areia, toma um banho de descarrego e agradece pela sua vida, do jeitinho que ela é.
Se não tiver mar por perto, escala uma montanha, inventa um rapel, mistura sal grosso na água do banho.
A contagem regressiva já começou. Crie o seu ritual e deixa chegar a mudança.
"Feliz" é um excelente adjetivo para acompanhar "Ano Novo".

domingo, 12 de dezembro de 2010

Vale a pena ler de novo

Não sou muito chegada em números. Nunca fui. Mas caí, sem querer, na seção de estatísticas do blog, e fiquei surpresa com este dado: das 16.611 visitas que já recebi aqui , o post "Família" (de 29/03/10, que reproduzo logo abaixo, na íntegra) foi o mais lido, com 3.936 acessos. Fico feliz pela repercussão e cada vez mais convicta de que esse tema foi feito mesmo pra receber a maior atenção do mundo. Vocês não pediram, mas ganham bis.
Família nenhuma é perfeita. Unida, embolada, fragmentada, inteira. Com anjos ou ovelhas negras, mama italiana ou judia por natureza, pais separados ou em plenas bodas.
A verdade é que nada é mais confortante do que poder ter a família por perto, nas horas boas e nas horas ruins. Seja para dar uma boa notícia, acudir na hora do aperto, estender a mão, passar pra frente uma prece, pedir colo e proteção.
Por maiores que sejam as diferenças e os caminhos trilhados por cada um, nada como esta ligação que dá razão e sentido. Nada como o abraço contagiante, o almoço de domingo, os olhos cheios de emoção. Nada como olhar pra trás e enxergar as raízes - raízes que sustentam, fazem história, explicam um porção de coisas e geram frutos os mais lindos.
Se é verdade que a gente escolhe, muito antes de nascer, a família que vai fazer parte, encho o coração de ternura para agradecer de onde vim. E olho com imenso carinho o que também veio depois disso - a família que formei, a família do meu marido, que adotei como minha.
Família nenhuma é perfeita, eu sei. Mas é tudo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Coisas do gênero

Mais uma pequena "perolice" do Léo:
- Mãe, eu queria ter um irmão.
- Mas Léo, você já tem a Bella...
- Não, mãe, eu queria um menino, pra me fazer companhia...
- Mas... Já pensou? E se vier outra menina?
- Aí eu tô ferrado!...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Natal "muderno"


Então é Natal. Com toda a correria, o cansaço, o trânsito já radicalmente congestionado, as lojas pulando em cima de você para vender de tudo um muito, você encontra um tempinho para ir entrando no clima. Tira a árvore do armário, os enfeites das caixas, coloca aquele CD de músicas natalinas, vai montando a árvore, assentando os sentimentos no coração, pensando que afinal de contas há um sentido em tudo isso. (Pelo menos, deve haver.)
Quando há crianças no meio, então, tudo fica ainda mais divertido, mais cheio de graça. Já faz algum tempo que o Léo não acredita em Papai Noel. A Bella, ao contrário, faz um "ahhhhhhhhh" cada vez que vê um desses bonecos de Papai Noel "escalando" os prédios e tentando entrar pela janela.
E aí me aparece o Léo com uma cartinha de Natal.
- Cartinha de Natal, Léo? (?!)
- É, mãe, pra você. Vou pôr lá na árvore, não esquece de ler.
Eis a cartinha:
"Pai, mãe, quero um avião do Lego com aeroporto. Compra na Games, lá é mais barato."

sábado, 4 de dezembro de 2010

Pop Love

Ontem fui assistir a uma peça do Grupo Galpão, estrelada pela minha querida amiga Cris. (A peça fica até amanhã no Galpão Cine Horto, ainda dá tempo de aproveitar.)
Não vou estragar a surpresa, mas adianto que é uma peça cheinha de elementos para você pensar. Pensar no que você anda vivendo, desejando, querendo. Pensar inclusive no que você anda engolindo por aí.
Pop Love tem Michael Jackson, Barbie, a babá da Barbie, uma empregada evangélica, uma arrumadeira peituda, uma cirurgiã plastificada. Tem até apresentadores de jornal assentados em vaso sanitário. Escatologia misturada com dramaturgia. Um prato cheio pra você morrer de rir mas acima de tudo refletir sobre esse nosso querido século XXI.
Lá da plateia, na segunda fila, fui sendo aos poucos impactada pela densidade crítica (e criativa, diga-se de passagem) com que a peça se desenrolava.
Se você quiser um retrato bem fiel do nosso tempo, tem que ir lá vi-ver esse Pop Love.