terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Tédio

Semana passada levei o Léo à oftalmologista para um check-up de rotina. Na sala de espera, o pequeno paciente teve que ter paciência: pinga colírio, arde um bocado, espera um pouquinho, pinga de novo, arde mais um bocado, aguarda até ser chamado pra entrar.
Peraí. Paciência? Para um menino em plenas férias escolares, que deixou o coleguinha em casa jogando playstation até ele voltar? Ah, é mesmo pedir demais.
As pupilas foram dilatando e a tromba também, proporcionalmente. Visivelmente cabreiro, mal-humorado, o pequeno me solta essa:
- Mãe, quero ir embora...
- Calma, meu filho, já já você vai entrar.
- Tô com tédio...

Passado alguns minutos (talvez os mais tediantes da sua vida), ele finalmente adentra pela sala da Dra. Daíse.
Depois de olhar para a parede e falar uma porção de letrinhas miúdas, a única palavra que passou a não existir mais era tédio. Esse sentimento acinzentado se transformou rapidinho em alegria quando ele soube que finalmente ia precisar usar óculos.
(Vai entender.)

Numa hora dessas o Léo já deve até ter esquecido o que é tédio. Desde sábado ele está se divertindo na machané (acampamento judaico) com os amigos da escola, o que inclui banho de piscina, chuva, lama; brincadeiras, noite do terror, gincanas.
O detalhe é que não pode levar celular, para desespero de "algumas mães" que nunca passaram um dia sequer sem falar com o filho. A ideia é mesmo criar nos meninos toda uma ideia de desprendimento, autonomia, desapego.
Nada mais saudável, eu sei. Saudável saudade, esta é a verdade...
Léo, a gente tem certeza de que você tá aproveitando como se estivesse na Disney.
Mas que a casa fica o maior tédio sem você, ah isso só sendo cego pra não ver...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Livro de vida inteira

Tenho me encontrado com Martha Medeiros todos os dias. Cada página de "Feliz por nada" é um pouquinho dela que fica em mim, fazendo-me acreditar que essa tal de sintonia realmente existe.
Além do jeito lindo de escrever, Martha Medeiros encanta com o conteúdo de cada crônica.
Fiquei presa "Dentro de um abraço", ouvindo "Sons que confortam", pensando na "Melhor coisa que não me aconteceu", me deliciando com "Beijo em pé".
Algumas crônicas já estou recomendando de "para-casa" para alguns clientes no consultório. Destaque para "Amigo de si mesmo", em que a vida ganha um outro contorno a partir do momento que você "se amiga" com você mesmo. Injeção de auto-estima na veia.
Para aumentar a sintonia, descobri no livro que a Martha foi, assim como eu, publicitária. E, se ainda não virou psicóloga, tem com certeza um pezinho nesse chão fértil das relações humanas. Suas percepções, sua autenticidade são um verdadeiro presente pra gente. Seu livro, mais que um ótimo passatempo nos dias de chuva (e também sol, praia, lua) é um convite ao pensar. Não só o pensar das sinapses nervosas, mas especialmente das artérias que percorrem o coração.
"Feliz por nada" é desses livros que a gente "entra" de um jeito e "sai" de outro, maior e melhor eu diria.
Cada crônica que eu leio é uma conversa boa que tenho com Martha Medeiros. Silenciosa e entusiasmadamente concordo com ela em gênero, número, grau, emoção e pensamento.
Vou além da sintonia e me atrevo a dizer, mesmo sem nenhuma comprovação científica ou teste de DNA, que a minha alma é prima da dela. E esse "parentesco" me enche de inspiração; não só para escrever, mas viver. "Feliz por nada" e também por tudo.

sábado, 10 de dezembro de 2011

"Noite de Ano Novo"

Tá bom, tá bom. Sei que desembestei a falar de cinema, mas não resisto à tentação. É que a questão náo é bem o cinema. É o tanto de vida que se desenrola ali na telona, acústica perfeita de "eu te amos", "te perdôo", "olás", "adeus", "Feliz Ano Novo".
Então é noite de Ano Novo em Nova York. Precisa falar mais alguma coisa? Ou você quer que eu chame o Frank Sinatra pra gente dar uma palinha? "It´s up to you, New York, New Yooooooork!..."
Sim, o filme é cheio de música, emoção, atores de peso (destaque para Robert De Niro e Michelle Pfeiffer, que quase não reconheci), paisagens de cartão postal, fogos de artifício e pequenas pitadas de clichê. Mas o que seria o Ano Novo senão um belo, grande e esperado clichê? Constatação entusiasmada (ou não, na versão dos mal-humorados de plantão) de que a vida continua, vira a página, começa um novo capítulo. E que pode começar de um jeito diferente, sem promessas em vão, ditas para o vento, mas com uma nova paisagem dentro de você. Paisagem feita de paz, alegria, amor, esperança, sucesso, realização. Mudanças silenciosas, majestosas, que para você farão todo o sentido.
Você pode ganhar na Megasena. Arrumar um namorado. Mudar de emprego. Dar a volta ao mundo. Ir pra Bali, Cabo Frio ou Milão. Mudar, casar e não me convidar.
Mas a realização que falei lá em cima não tem necessariamente que estar em projetos grandiosos, extraodinários ou radicais. Pode ser algo pequeno, sutil, mas suficiententemente grande para transformar a sua paisagem interior. Sol no lugar de neve, flores para um jardim árido, chuva para irrigar os seus desertos.
Feliz Ano Novo. (Um pouco antes da hora, eu sei, mas já inteiramente no clima depois desse filme delicioso.)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Pipoca com pimenta

Apaixonada por cinema que sou, corro pra fila quando há um bom lançamento ou pra locadora quando ele já saiu de cartaz. (Sim, os filmes costumam sair logo de cartaz quando se é mãe, profissional, mestranda, dona de casa...).
Semana passada fiz as duas coisas: aluguei "O Concerto" e vi na telona todo o talento de Almodovar em seu mais recente "A Pele que Habito".
Recomendo os dois, sem pestanejar.
"O Concerto" nos envolve com a sua graça, emoção e a beleza orquestrada por Tchaikovsky.
"A Pele que Habito" nos cobre de suspense e adrenalina com a sua trama psicológica tão inusitada, supreendentemente arquitetada. (Acordei no dia seguinte com as cenas na cabeça.)
Os dois têm em comum, apesar de estilos tão diferentes, a vingança como tema. No primeiro, a vingança que nasce por acaso, pela interceptação de um fax, movida pela paixão e pelo brio, pelo brilho nos olhos que ilumina uma causa nobre. (Nobríssima.)
No segundo, a vingança vem perfeitamente de encaixe, desencaixando tudo, violentamente proporcional a uma dor doída de morrer.
Seja pela audição ou tato, a vingança se faz ouvir em alto e bom som; e é tão vingativa que dá até pra pegar. Em ambos os casos, tem pimenta pra arder os olhos; e está longe de ser um prato que se serve frio.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Inquietude

"Quieto, menino! Desse jeito vai se machucar!"
Quem é que nunca ouviu essa frase antes?
Quem é que não teve infância e, com ela, a inquietude
de tudo descobrir a cada detalhe de instante?
Como ficar quieto diante das nuvens, dos muros,
da página em branco?
Como parar diante de um mundo inteiro
a ser desbravado, como não descobrir países
e continentes dentro de si?
"Quieto, menino." Se já não pára agora,
nem um segundo, o que vai ser
quando não for mais criança -
tampouco gente grande, porém?
Mais inquietude te espera do alto das suas espinhas,
dos seus hormônios, do quarto trancado.
Infinita inquietude de viver o sim, o não,
as agruras da transição.
Inquietude de não concordar com o mundo,
de dar mergulhos no escuro,
de colocar o verbo amar numa prisão.
"Quieto, menino". Daqui a pouco você arruma barba,
trabalho, mulher, filhos
e a inquietude que te move desde sempre.
Pra onde? Como? Pra quê? Até quando?
Não sei, menino. Só sei que a inquietude é grande,
de uma grandeza imensa que ensina a gente
a se encontrar.
Até lá, não tem jeito: a gente machuca, tropeça, desencanta, anda e desanda.
Muitas vezes dá voltas e mais voltas
até achar a chave da prisão.
E quando chegar a hora, no tempo certo,
quando a luz se apagar,
a inquietude descobre que pode finalmente se aquietar.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Achados e perdidos

Perdeu o convite, o brinco, o brilho nos olhos.
A chave, a memória, o bonde da história.
A senha, a resenha, o rumo de casa.

Perdeu o ônibus, a fé, o sono.
Os óculos, monólogos, binóculos.
A esperança, o sol, bonança.

Perdeu tudo o que tinha para não perder a cabeça.

Ganhou colo, copo de água, poesia.
Xícara de chá, sofá, sentido.
Identidade, segunda via, rio.
Riu quando se viu perdidamente achada na vida.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Unidunitê

Quando eu fiz nove anos minha mãe me colocou no inglês. Uma das primeiras coisas que aprendi foi a parlenda "unidunitê", e daí em diante não parei mais. Ia pra aula happy da vida, as aulas mais pareciam terapia de grupo. A gente conversava sobre everything, e no final ainda cantava as paradas de success. Deve ser por isso que andam me "elegendo" (menos, Renata, menos) na família como cantora do ano. Não posso ver um microfone que vou logo desafinando um "I was born to love you!...". Esse feriado comemoramos o aniversário da minha querida sobrinha Luciana lá no sítio e eu arrasei de Nat King Cole, com um caprichado "Unforgettable... that´s what you are...".
Bom, mas tudo isso pra dizer que nem sempre a história é "tal mãe tal filho". O Léo está no inglês, mas não morre de amores por ele. Andou me cantando inclusive pra sair, e eu rasgando o meu português:
- Mas filho, inglês é muito importante. É uma língua universal,o mundo todo fala...
- Mas, mãe, e por acaso as pessoas que moram nos Estados Unidos têm que falar português?!
(...)
Ok, all right, let´s go, desabafo registrado. Um pouco de ufanismo não faz mal a ninguém. Mas trata de abrir o book porque semana que vem tem prova. E nada de fazer unidunitê na hora de marcar a opção correta, hein?
Love you.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Palhaço também é gente

Se você ainda não assistiu "O Palhaço", do talentoso Selton Mello, dê um "pause" na leitura e vá se emocionar com esse filme que é cheio de poesia e graça. Depois voltamos a conversar, que é pra não estragar a surpresa.
Se você já assistiu, ajeite-se bem na cadeira e vamos lá, prosear sobre a vida. A vida sobretudo de um palhaço profundamente triste, esvaziado de alegria, a despeito de ser palhaço. (É. Acontece. Palhaço também é gente.)
Poderia gastar dez posts discorrendo sobre o talento desse moço que é tão competente naquilo que faz. Mas falando agora como psicóloga, e não só espectadora, confesso que fiquei impressionada com o tanto de tristeza que ele conseguiu passar pela tela. Uma tristeza pungente, doída, dessas que pesam a alma como se ela carregasse pedra. E agora não vou falar nem como psicóloga nem espectadora, mas ser humano simplesmente, reles mortal que também tem os seus dias de tristeza. Nunca vi um sentimento ser transmitido de forma tão fidedigna e contundente. Tristeza contagiante, paralisante (em alguns momentos paralisava até a minha mão dentro do saco de pipoca).
O detalhe lindo do filme é o nome do circo: Esperança. Parece um detalhe bobo, simples, mas cheio de sentido para um palhaço que não dava mais conta de fazer o público rir ("E quem é que vai me fazer rir?", pergunta ele uma hora). Movido pois pela esperança de ver essa tristeza se transformar em alegria - alegria de viver, pura e simplesmente - Pangaré deixa o circo pra trás e vai em busca da vida. Da sua vida, que fique bem claro. Leva no bolso a certidão de nascimento amassada (única referência oficial dele mesmo) e trata logo de fazer sua carteira de identidade, tão fundamental pra se apresentar ao mundo e poder dividir em fraternas parcelas o sonho do seu primeiro ventilador. Ventilador que gira, refresca, que seca o suor do trabalho e lembra que o mundo é redondo e dá voltas - voltas que majestosamente surpreendem o público no final.
Mais do que um documento plastificado com número, foto e impressão digital, Pangaré estava em busca do que nós também buscamos construir, cuidar e amar uma vida inteira - nossa identidade.
Com doçura e encanto, poesia e canto, nosso querido Palhaço nos ensina o que eu tanto acredito: a vida tem uma capacidade maravilhosa de transformação.
A plateia pede bis.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O amor por ele mesmo

Amor. Amar. Amei. Amém.
Não falo do amor de novela das oito ou dos filmes de Hollywood. Não. Nada de lenço, óculos cor-de-rosa, água com açúcar ou beijos molhados. Falo do amor que transcende tudo, que reúne todas as virtudes - delicadeza, compreensão, paciência, zelo, generosidade, temperança, fidelidade. Do amor que diz não, que cuida de tudo que é dor, que não aceita o que vai na direção contrária do amor.
Amor dos afetos e dos desafetos. Amor da sua vida e amor que você tem pela sua vida. Amor que reside num copo d´água, num bom dia nublado ou ensolarado. Amor que vira a página, machuca e cura, silencia e ao mesmo tempo rege uma orquestra sinfônica dentro da gente. Porque gente foi feita pra amar. Pra fazer do amor um presente, um hino, uma celebração sem necessariamente motivo pra comemorar.
Amor da onde você veio. Pai, mãe, por mais imperfeitos que sejam. (Você também é.)
Amor que não tem por quê, mas pra quê, sentido de toda uma existência.
Amor que convida a amar de agora em diante e sempre, aprendizado que se eterniza numa completa ausência de fim.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ansiedade infantil

Interessante como a noção de tempo se desenrola na cabecinha de uma criança.
Domingo lá pro meio da tarde, depois do peixe ao molho de camarão divinamente preparado pelo pai,
o sofá nos chamando prum filme da Disney, a pituquinha me vem com essa:
- Mãe, hoje tem aula?
(...)
Não é raro dizer também:
- Ontem eu vou brincar com a minha amiga Sofia de Barbie Moda e Magia!...
(...)
À falta de noção, tão apropriada pra idade, soma-se à ansiedade de sorver com empolgação
cada segundo da vida, como se ela fosse um sorvete gigante banhado por uma deliciosa calda de chocolate.
Daí a famosa e incessante perguntinha que sempre acompanha as viagens de carro:
- Tá chegando? Tá chegando? Já chegou?
(...)
Quando é o aniversário que está chegando, então, a ansiedade escorre.
Nessas manhãs "agradavelmente" despertadas uma hora mais cedo pelo famigerado horário de verão,
a Bella mais parecia aquela personagem dos contos de fadas que leva o seu nome, tal era a profundidade do seu sono.
Fiquei com dó, levei o Léo primeiro pra aula (afinal, tinha uma baita prova de matemática esperando por ele) e fui trabalhar.
Fiquei sabendo mais tarde pelo Dé que, quando foi acordar a Bella Adormecida, ela abriu os olhos e perguntou:
- Hoje é meu aniversário?
- Não, filha. Ainda faltam alguns dias.
- Ah, então eu vou dormir mais um pouquinho.
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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Perolices

Aniversário na escola das crianças. Depois do parabéns, o tradicional “Com quem será, com quem será, com quem será que a Marili vai casar... É com o Thiago, é com o Thiago, é com o Thiago que a Marili vai casar...”
Até aí, tudo bem.
O inesperado foi o Léo questionar, em alto e bom som, na maior braveza, dando a maior bandeira:
- QUEM É ESSE THIAGO?
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Dias depois, o Léo foi acampar na casa do João. Adivinha de quem o João é irmão? Da Marili, a lindinha de olhos azuis "que vai casar com o Thiago". Pois é. Com a bandeira que o meu filho deu, a mãe da Marili (também psicóloga e escritora, poetisa de mão cheia) ficou na maior torcida. Aprovação total do pequeno futuro genro.
Eis que na hora do almoço, como quem não quer nada, a avó da Marili, também já botando fé, perguntou:
- Quando você crescer, Léo, vai se casar com uma judia ou uma cristã?
Com uma tromba de todo tamanho, ele respondeu:
- Eu não vou casar. Vou ser padre.
(!)
- Ué, num é rabino não, é padre?...
- Não. Vou ser padre.
(Claro. Rabino casa. Padre de jeito nenhum.)
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Toda noite, rezo com as crianças. Costumo dizer algumas palavras e peço a eles pra repetirem.
Um dia desses falei pra Bella:
- Hoje você vai rezar sozinha, Bella. O que você gostaria de falar pro papai do céu?
- Que eu amo o Léo!...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Verdade ou mentira?

Às vezes fica tão fácil complicar a vida. Fica fácil colocar pedras no meio do caminho, por mais pesadas que elas sejam. Fica fácil trocar o sim pelo não. Colocar máscara de velho rabugento pra disfarçar a criança que tem aí dentro, estendendo os braços, pedindo colo. Sim. Colo, abraço, cheiro, afeto. Já ouviu falar nisso? Mas não. É mais fácil torcer o nariz, obedecer cegamente o relógio, ignorar a beleza que reside na simplicidade de um oi, um obrigado, um adeus. Filhos separados dos pais, retratos rasgados de uma história que poderia ser mas não foi. Amores que se foram, se perderam, para sempre, sem volta. Amigos que há muito guardam esse título, mas se tornaram apenas velhos conhecidos, esbarrando ocasionalmente no supermercado. Prateleiras cheias de hipocrisia, má-digestão, azia. Falta de tempo, falta de paciência, falta de coragem de olhar o outro nos olhos e perguntar: "Você está bem?" De verdade, por querer saber, interesse genuíno, e não porque o protocolo exige. Talvez esteja passando da hora de romper alguns estranhos hábitos. Girar a garrafa, tirar o disface, abandonar máscaras. Abraço de urso, ao invés de tapinha nas costas. Conversa de horas, ao invés do bom dia de elevador."Eu te amo" dito sem dizer absolutamente nada e dizendo absolutamente tudo. Verdade verdadeira, essa que a gente capta num olhar, num sorriso, num telefonema mesmo que rápido, na frieza de uma tela de computador.
Qual é a sua verdade?

domingo, 9 de outubro de 2011

Pânico

Sexta-feira levei um susto danado, desses que inundam o organismo de adrenalina e alteram a pressão arterial.
Estava fechando o consultório quando recebi uma ligação da Patrícia, minha ajudante, em pânico:
- O Léo estava tomando banho e o box caiu em cima dele! Voou caco de vidro pra todo lado e ele teve vários cortes, mas parece que não foi nada grave.
Sua mãe e seu pai saíram daqui agora, foram levar ele pro hospital.

[Ai. Respira fundo, reza e aperta o passo.]
(...)
Graças a Deus tudo não passou de alguns cortes superficiais, o pior mesmo foi o susto e o tanto que o pequeno berrou.
Tinha caco de vidro até dentro da orelha, mas nem ponto precisou dar.
Nada como vô e vó sempre por perto, de prontidão, e um anjo da guarda que não arrasta pé nem um segundo, sempre em vigília e proteção.
Nada como carinho de pai e mãe pra passar o susto e aliviar a dor.
Curativos feitos e muitos decibéis de choro por causa do iodo ardido, fomos comer uma pizza pra relaxar.
A essa altura o Léo já estava com a carinha ótima, saboreando a sua pizza preferida e recontando a história algumas dezenas de vezes.
Eu ainda estava perplexa:
- Meu Deus, nunca ouvi contar um caso desses. O blindex estourar desse jeito, que loucura...
E aí é que ele me veio com mais uma das suas:
- Tá vendo, mãe? Por isso é que eu não gosto de tomar banho!
(!...)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Perolices fecundas

Ontem o almoço lá em casa foi a maior "Disneylândia": frango a passarinho crocante, purê de abóbora moranga, saladinha de mil folhas.
À noite, a Bella me pediu para contar uma história e a escolhida foi "A leiteira".
Muito curiosa e conversadeira, a pequena me interrompia a cada palavra lida para perguntar
"que que é isso?", "por que aquilo?"
Em determinado momento da história, "A leiteira" foi ao mercado para comprar uma galinha poedeira, e a ilustração mostrava justamente
os ovos sendo quebrados pelos pintinhos.
Foi quando apontei pra galinha e disse a ela:
- Olha, filha, igual o frango que a gente comeu na hora do almoço.
Qual não foi o seu espanto, desgosto, perplexidade. Parecia o fim do mundo:
- O quê, mãe?!?!? A gente comeu frango?!?!?!
(...)
Coitado!...

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E o Léo aprendendo tudo (e me ensinando tudo) sobre o Ano Novo Judaico, a criação do mundo, etc:
- Foi assim que tudo começou, mãe. Deus criou a terra, o céu, o mar, as plantas e os animais, criou o homem e a mulher.
- Quanta coisa linda ele criou, né, Léo?
E ele, pensativo:
- E quem foi que criou Deus?!?!?!?

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Abstinência

Passo mal
se não escrevo.
Sinto dores,
calafrios, ausências.
Sinto saudade de mim.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mirante

Cai a noite.
Desmaia o sol.
Chove via láctea num mar sem fim.
Acorda o sono.
Não deixa morrer o sonho.
Desperta pro que está por vir.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ilhada

Inventou segredos.
Ensaiou mil beijos.
Deu férias pro azar.
Foi em busca do mar.
Em busca de amar.
Primeiro a si mesma, de corpo inteiro,
de alma pronta e lavada.
Depois para quem merecesse beber em fonte
tão abundante de amor.
Abundância, é o que nos diz o mar.
Eternidade, é o que responde o amor.
Sem tirar a roupa, se desnudou por inteiro.
Mergulhou em si mesma como veio ao mundo.
Virou ilha cercada de paz.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Carta aos meus filhos

Léo querido,

Vou torcer para você estar na aula de informática e ler em tempo real, ao vivo e em cores, a minha saudade, que é do tamanho do mundo.
Chegamos amanhã e vou apertar, abraçar, encher de beijos, colo e carinho você e a Bella.
Contagem regressiva, comece a contar desde já!
Amo muito vocês, meu sol, minha flor.

Mamãe.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Carta de amor

Querido Neruda,

Quando você se foi eu ainda nem havia nascido. Dizem que morreu de tristeza, dessas mortes que cabem bem aos poetas. Cheguei nove meses depois, e outros tantos anos aqui estou, sentada de frente pro mar, pensando no que os seus olhos viam quando também enxergavam a beleza de Viña del Mar. De um lado, a beleza do Oceano Pacífico que rega o seu Chile de congrios e ceviches. De outro, tão perto daqui, em Santiago, a força da Cordilheira dos Andes que nos encanta com o seu pranto perene de neve.
Inspirada em você, querido Pablo, dei um "pause" na rotina e vim viver o amor com todas as letras, versos, prosas e canções. Não foi isso que você escreveu? "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada." Imagino o quanto você amou e rimou o amor e a dor com sua alma de poeta, merece-dor do Prêmio Nobel da Paz. Sim, querido Neruda, o amor um dia acaba desaguando num oceano imenso de paz. Mesmo que no caminho doa, sofra, caia, morra, se descabele. Não é assim que você chamava a sua terceira mulher? La Chascona, a descabelada. Sim, querido poeta, o amor vira os enamorados pelo avesso.
Fui até a sua casa, estava fechada. Vou tentar amanhã, em Valparaíso, convidada que já me sinto a adentrar um pouco mais na sua vida, respirando cada canto de poesia que ainda hoje deve habitar La Sebastiana.
Pois bem. Vim escrever um pouco mais da minha história no seu chão que é repleto dela. E olhando pra esse marzão aqui na minha frente, abro uma garrafa de vinho, me lembro de Iemanjá (se você tivesse mais uma casa, este nome cairia bem) e brindo com você o amor que um dia, em suas memórias póstumas, você "confessa ter vivido".
E já que estou aqui, viva, vivinha da silva, bebendo na fonte da sua poesia, que eu não precise morrer para confessar a imensidão de amor que dentro de mim é mar e montanha, céu e chão, paz e revolução.
Adeus.

P.S: Um tanto de amor acho que aprendi com você.
P.S´: Relendo o post hoje de manhã, vi que "te dei" o Prêmio Nobel da Paz, quando na verdade você ganhou foi o Prêmio Nobel de Literatura. (...). Não importa. Quem tanto já falou de amor, quem tanto fez poema com o mar merecia mesmo dez Nobeis da Paz. O prêmio é todo nosso, querido Neruda.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Recomendações de mãe

Cada fase uma fase, um momento diferente.
Eu me despedindo do Léo ao deixá-lo na escola:
Filho, "Deus te abençoe", boa prova, não se esqueça de escrever respostas completas, não confunda fotossíntese com polinização. E lembre-se: "green", grama; "yellow", sol. Capricha na prova de inglês!...
Com a Bella, a recomendação mais importante:
Tchau, minha flor, brinca bastante!
Nem precisei terminar a frase e ela saiu correndo em direção à Sophia e ao Ilan, direto pra casa de boneca:
- Mamãe, a gente vai brincar de Smurfs! Eu vou ser a Smurfete!
Ah, meus filhos. E assim vou indo trabalhar com um sol dentro de mim, a alma em paz e o coração cheio. Hoje vocês se dividem entre clorofilas, agentes polinizadores, Smurfs e Smurfetes. Amanhã serão contas a pagar, casamento para cuidar, trabalho para amar, filhos para encher de beijos na porta da escola.

domingo, 28 de agosto de 2011

"Tricotices"

A primeira tricotada "a gente nunca esquece". E pra garantir que a gente não vai esquecer mesmo, deixo esta pequena relíquia aqui no blog. (Quem sabe meus filhos, netos, bisnetos e tataranetos não lerão um dia.)
Do alto dos seus quase quatro anos, o pinguinho de gente da Bella resolveu bater um papo bem entrosado com a Patrícia, que trabalha na nossa casa. Eis o diálogo, na íntegra:
- Pat, você sai com a sua mãe no fim de semana?
- Saio, Bella.
- Só você e ela?
- Não, eu tenho uma irmã.
- Como ela chama?
- Luciana.
- Luciana?! Igual a minha prima, que mora em Uberlândia. Ela é filha da Tia Rosi e tem um namorado liiiindo, chamado Fred. (!)
(Risos, muito risos da Patrícia)
Com a maior seriedade do mundo, lá vem a Bella:
- Por que é que você tá rindo? (...)
- Nada, Bella, nada, só achei graça do jeito que você falou.
- Ele é um gato. Mas não conta pra ninguém, tá? Esse vai ser o nosso segredo. (!)
.........................
PS: Tão longe tão perto, de um jeito ou de outro, a Tia Rosi e a Lulu são sempre lembradas por nós. Bem-vindo ao clube, Fred. (!) Seu ibope anda alto por aqui.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Obrigação

Cresci ouvindo isso da minha mãe: "primeiro a obrigação, depois a devoção".
Aprendi direitinho, tintim por tintim, letra por letra.
Tinha também a outra versão de rima: "primeiro o dever, depois o lazer".
Ah, mães. Hoje sei bem o que é isso, conheço bem essa toada, e tento passar pros meus filhos de tudo quanto é jeito. Tá impregnado, tá na pele, tá virando quase um mantra: obrigação, ão... ão... ão... ão...
Só que ao invés de relaxar, põe é pilha. Claro. "Um dois, feijão com arroz." Bora bora, vamos aproveitar o tempo, cuidar do que é prioridade para aproveitar depois a felicidade do tempo livre. (E quem disse que tempo ocupado não é felicidade? Ô, se é.)
Olha eu aqui, burlando a regrinha básica que a minha mãe me ensinou. Enquanto você passeia pelo blog, tem uma pilha de livros pra eu ler e artigos pra escrever. Obrigação da pesada, estou até parecendo o coelho da Alice no País das Maravilhas: "É tarde! É tarde, é tarde, é tarde!"
E eu, mistura de coelho e gente, quase estou ouvindo a minha orientadora dizer : "primeiro a obrigação, depois..."
(Ela é que não sabe o tanto que essa devoção aqui
me enche de inspiração.)
Fui. "É tarde, é tarde, é tarde!".

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ao trabalho

Chega de banho. Você vai acabar derretendo desse jeito.
Arregaçar as mangas. Rasgar o verbo. Desentalar.
Chorar se preciso for.
Enfrentar o batente, a labuta, a dor de dente.
Encarar os problemas de frente.
Ninguém te falou que seria fácil.
Viver não é conto de fadas,
não é matematicamente simples assim.
Dorme. Acorda. Boa noite, bom dia.
Ginástica física, mental, emocional.
Corre daqui, peleja dali.
E assim a gente vai transformando
pedras no caminho em bolhas de sabão.
Sem tirar o pé no chão,
mas com possibilidade de alcançar a lua.
Por que não?
Aceita os convites que a vida te faz.
Faz careta pro bicho-papão.
Até morrer de rir. Até descobrir o quanto faz bem sorrir.
Antes de virar abóbora,
toda Cinderela tem seus minutos de sonho.
Se você acredita na eternidade,
tem um punhado de realização pela frente.
Bora, o despertador já tocou.
O sol vai continuar nascendo todo dia,
quer você acorde ou não.
Acorda. Espreguiça, estica a coluna,
beija a alma e vai abraçar esse montão de vida
que te espera lá fora.
Mãos à obra.

sábado, 6 de agosto de 2011

Pausa refrescante

Outro dia fui comprar um sabonete líquido para o banho e fiquei alguns minutos diante da prateleira, observando a variedade de marcas, aromas, cores. Um deles me chamou atenção pelo imperativo estampado no rótulo: "Recarregue-se".
Não tive dúvida. Coloquei no carrinho e lá fui eu pro caixa, pensando no poder que as palavras têm. (Os publicitários são especialistas no assunto).
Depois de uma semana de muito trabalho, nada como recarregar as baterias, soltar as mangas e degustar dessa pausa refrescante que é escrever no blog.
Então, aproveita que é sábado para seguir o que o sabonete manda: "Recarregue-se."
Banho de espuma. Banho de loja. Banho de alegria. Banho de música. Banho de cultura. Banho de saúde. Banho de paz, de amor e vida.
Banho de pipoca, sofá e riso.
Só não vale banho com balde de água fria.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Feridas

Ontem eu dei uma entrevista para o MGTV sobre um tema bastante comum e ao mesmo tempo complexo: "pessoas negativas, destrutivas, que puxam o outro pra baixo ". (http://g1.globo.com/videos/minas-gerais/v/especialista-ensina-como-lidar-com-criticas-negativas/1583961/#/todos%20os%20v%C3%ADdeos/page/1)
Como o assunto dá pano pra manga e o tempo é sempre contadinho no Programa, resolvi estender um pouco do tema por aqui, explorando especialmente o lado de quem sofre com o que vem dessas pessoas tão esvaziadas de auto-estima.
Que elas não percam jamais a lucidez de enxergar que o problema não é com elas, mas com aquele que pisa, humilha, puxa pra baixo. O foco não é a vítima, mas o algoz. Ele tem dificuldades a resolver. Falta a ele uma boa auto-estima, assim como também faltam habilidades emocionais, interpessoais, muitas vezes profissionais. É o professor que diminui o aluno, o chefe que destrói o funcionário, a patroa que acaba com a raça da empregada. Por mais paradoxal que pareça, o conflito também pode surgir entre marido e mulher, pai e filho, parentes que acabam virando serpentes. Pessoas assim buscam compensar a baixa auto-estima com poder, na ilusão de se fortalecer com a fragilidade do outro.
Mera ilusão, sinto lhe dizer. Mas aí vão duas boas notícias:
1) o que é puxado pra baixo pode perfeitamente, com a segurança e auto-estima que tem, colocar limite e dar a volta por cima.
2) o que puxa pra baixo pode reconhecer que a fragilidade na verdade é sua, e buscar mudar para sobreviver emocionalmente.
Bem-vindo à vida, cheia de desafios e oportunidades pra gente crescer. Mesmo que às custas de muito tombo no chão.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Confissão

Um dia ela me confessou, muito timidamente:
- Às vezes eu penso em mudar de sexo. Deixar de ser mulher. (...)
Mas nada de ser homem também. Esquece.
Meu sonho de consumo é me transformar em máquina. De preferência uma bem grande, linda, de plasma ou LCD. (Plasma não, de plasma basta eu tentando inutilmente aparecer.)
O que eu queria mesmo era me banhar de todos os brilhos, cores, amores. Imagens em movimento, tão aceleradas quanto os filmes do 007. É isso. A partir de hoje meu nome é "Bond. James Bond".
Quero ter voz. (E que a minha voz seja ouvida no talo.)Quero ver ele não olhar pra mim agora. Cheia de astúcia, sedução, armas de última geração.
"Bond. James Bond."
E quando ele cansar desse filme é só me apontar o controle. Gol de placa, golaço, grito de adrenalina no último minuto do segundo tempo.
É zero a zero e ele insiste em olhar pra mim. Vidrado, louco, completamente apaixonado.
Se não capotar no sofá depois disso, é certo que vai pra cama comigo.
Muito prazer, eu sou a tal.
Sem concorrência. Sensacional. Inteiramente digital.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

problemas e PROBLEMAS

"Cada um com o seu problema", diz um chavão conhecido. Cada um com a sua cruz, dizem os mais espiritualizados. Já a minha bisavó costumava dizer: "que esse seja o seu maior problema..."
Problema é o que não falta. É o que nos faz correr atrás, sofrer, aprender um bocado na vida. Problemas internos, externos, de todos os tipos.
Cada um tem o seu pra enfrentar, e isso já é o bastante. Subjetiva é a dor e angústia que cada um carrega no peito.
Tô falando tudo isso pra chegar no Chico e o filme que veio completar as comemorações do seu centenário e fechar com chave de ouro as minhas breves férias no friozinho lá do sítio.
"As mães de Chico Xavier" vieram pra confirmar a saúde dos meus canais lacrimais. Estão supimpas, graças a Deus.
Meus olhos se encantaram com o que viram - a simplicidade do enredo, da trama, da trilha se misturando a cenas tão cheias de emoção. A beleza reside mesmo na simplicidade.
Sei que cada problema é um problema e dor não se compara. Mas se você quiser ver o seu problema diminuir de tamanho por um instante - aproximadamente por duas horas - é só ligar o DVD e colocar "As mães de Chico" pra rodar.
Às mães (e também aos pais, claro) que já viveram o abismo de imensa dor que é perder um filho, meus mais profundos sentimentos e a esperança de que o Chico continue escrevendo cartas lá de cima.

domingo, 17 de julho de 2011

Resolvendo conflitos

Ontem fomos almoçar no Hokkaido.
Nem bem escolhemos a mesa, a Bella viu outras crianças brincando debaixo do piano e foi logo se enfiando lá embaixo também, saidinha que é.
Voltou desapontada:
- Manhê, aquele menino de blusa verde me chamou de chata.
- Ah, minha filha, ele é pequenininho, vai ver nem sabe o que é "chata".
Foi lá e voltou ainda mais desapontada:
- Mãe, ele me chamou de chata de novo.
- Vai lá e resolve... É conversando que a gente se entende.
Dessa vez voltou mais animada e me disse:
- Mãe, fui lá. Resolvi. Ele não vai me chamar mais de chata.
- E como é que você resolveu, Bebella?
- Ele foi embora.
.....................................................

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Tragicômico

Comecei a assistir "A Grande Família" e não resisti. Pronto. Peguei o netbook e aqui estou, com os dedos coçando, escrevendo sobre o episódio de hoje - "A mãe de Lineu Parte 2".
Não vi a parte 1, mas a 2 é um prato cheio para psicólogo. Trágico. Cômico. Mais trágico do que cômico.
Assim são os traumas de infância. Inesquecíveis, dolorosos, indeléveis.
Uma mãe abandona o filho e reaparece muitos anos depois, já velhinha, encontrando seu filho como gente grande, pai de família. Cheio de lembranças doídas, cheio de mágoa no peito, cheio de falta. Falta de colo, falta de ar, falta de mãe simplesmente.
E aí as piadinhas, os risos, o humor negro
que são típicos do programa vão dando lugar
à emoção de um filho que se reencontra com a mãe, tanto tempo depois.
Do lado de cá, o telespectador se emociona com o que vê em flashback: a separação dos pais do menino, os retratos rasgados, a rigidez militar do pai, o medo de dormir no escuro, o choro proibido, a paixão da mãe pela profissão de cantora, a polêmica questão da guarda judicial, o peso que é para um filho decidir com quem ficar.
Do lado de cá, a gente vê quanta confusão, quanto mal-entendido, quanto amor transbordando entre mãe e filho, a despeito da violência desse abandono.
Depois de tanto resgate, o programa termina com a alegria que lhe é peculiar. Com a constatação de que é possível recomeçar e reconstruir a história, a vida, apesar de tudo o que foi e significou o passado. (Passou.)
Olhando para a sua grande família,
Lineu enxerga no Lineuzinho que foi um dia
a alegria de viver um destino mais leve.
Constelação familiar pura na telinha da Globo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Término

O que dizer do amor que outrora foi, e já não é?
Presente frágil numa imensidão de ontem.
Página que o vento não deixa virar.
Música desafinada, coração necrosado,
sequestro do sol.
Quem é que inventou o verbo acabar?
Acabou, pretérito perfeito. Imperfeito eu diria.
E do verbo faz-se a dor.
Da dor o porta-retrato quebrado,
o choro enlutado, a falta de fome,
a sede de fala.
Da cicatriz a defesa, a casca, a lembrança,
a marca de uma história que não termina no fim.
Fecha a porta. Abre o dicionário.
Letra r, de recomeçar.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Personalidade

Cinema ou teatro?
Tanto faz.
Praia ou montanha?
Tanto faz.
Japonês ou feijoada?
Tanto faz.
Gato ou cachorro?
Tanto faz.
Saia ou calça?
Tanto faz.
Tanto faz não é resposta.
Jogue fora o seu velho hábito
de ficar em cima do muro,
enxergando o mundo através do olhar do outro.
Atendendo aos desejos do outro.
Você não é gênio da lâmpada.
O outro não é você.
Você pensa, sente, quer ou não quer.
Desce do muro.
Veste a sua personalidade mais bonita.
Não tenha medo se mostrar.
Vá à luta. Encare a labuta.
Mostre a que veio.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Fome de quê?

Adoro filmes infantis. Apesar de serem feitos para crianças, atingem em cheio os adultos, grandes crianças que são, tocadas por temas que lhes dizem muito respeito - auto-estima, amor próprio, felicidade, relação entre pais e filhos, etc.
Nem todos os filmes dá pra assistir. A vovó Clara passa na minha frente, pega os meninos e lá vão eles pro cinema, felizes da vida.
Kung Fu Panda foi assim. E como eu não quero perder o 2 por nada desse mundo (mas também não quero pegar o bonde andando), fiz um baldão de pipoca e assistimos ao filme, eu e o Léo. (A Bella, esbodegada da escola, já tinha virado Bela Adormecida faz tempo.)
Se é pra fazer uma reflexão, lá vai: comida.
Temos um urso panda, gordinho por natureza, que trabalhava com o pai (um pato!) fazendo macarrão. Urso engraçadinho, espirituoso, cheio de garra e empenho para conseguir o que quer: ser um grande lutador de Kung Fu.
No meio do filme, chateado pelos obstáculos que encontra no caminho, o mocinho do filme vai pra cozinha e se empanturra de biscoitos. Come, come, come até dizer chega. Até o seu mestre aparecer e testemunhar a sua gula. Ao que ele justifica tristemente:
- É... Quando eu fico chateado eu como.
Corta. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Quantos(as) ursinhos(a) panda você não conhece por aí?
Você mesmo(a), confessa que nunca abriu uma caixa de chocolate pra curar dor de cotovelo?
Espaços vazios. Abismos dentro da alma. Fome. Sede. Gula. Falta.
E aí vem o biscoito, a macarronada, o bombom, a pizza para prencher o que está oco. Para compensar a falta de alegria, amor, serenidade, afeto, equilíbrio. Pseudo-prazer que logo vira desprazer. Vira culpa, dor no estômago, quilos extra.
Chega de pipoca. Hora de escovar os dentes, dormir um sono bom e alimentar a alma de sonhos.
Boa noite, caro(a) leitor(a).

domingo, 3 de julho de 2011

Perolices do fim de semana

Parque Municipal, sábado de manhã, sol a pino.
Eu, Léo e Bella engrossando a fila da Roda Gigante, maior alegria.
Chega a nossa vez. Quando a barra de proteção faz "clec" e começamos a subir, o Léo me vem com essa:
- Eu não gosto de roda gigante.
Detesto quando pára lá em cima e fica balançando. (!...)
...............................................
Vovô Tito veio corujar os netos. Jogou playstation com o Léo e comeu guloseimas com a Bella. Na hora de ir embora, fomos levá-lo até o elevador. Suspirando, a baixinha olhou pra mim e disse:
- Ahhhhhhhh, eu adoro o seu pai!...
..............................................
O domingo nem acabou e o Léo, já pensando no próximo final de semana:
- Mãe, o Vitor pode vir aqui em casa no sábado?
Por favor, por favor, por favor, por favor!!!
- Ué, pode, Léo.
- Oba! Minha técnica deu certo.
- Que técnica, menino?!
- A técnica que o João me ensinou. Quando a gente quer muito uma coisa, é só pedir "por favor, por favor, por favor, por favor" assim. (!...)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Paris

Coloquei minha echarpe, 5 gotas de perfume,
peguei meu namorado e fui dar uma voltinha em Paris.
Montmartre, San Michel, Rio Sena, Marrais...
Suspiros, poemas, fascínio, alegria. Enchanté.
Nessa voltinha, aproveitei pra matar saudade
do meu querido sobrinho Pedro,
que foi dar uma voltinha por lá
e acabou ficando, ficando...
(Volta, Pedro, se não sua mãe endoida.)
E dá-lhe Rodin, Camille Claudel, sinos de Notre Dame.
Dá-lhe amor, cidade-luz, Torre Eiffel que brilha os olhos.
“Meia-noite em Paris”, de Woody Allen,
é um filme para ser visto com vinho e pipoca.
Como se não bastasse a delícia da paisagem,
você vai se inebriar pelo enredo - e voltar no tempo
para um grande encontro com Scott Fitzgerald,
Ernest Hemingway, Pablo Picasso. (Vai um autógrafo?)
Eu ainda colocaria mais lenha nessa fogueira
(ou mais vinho nessa taça) e chamaria Chopin, Da Vinci,
Freud, Platão, Nietzsche, Bach e Beethoven
para um sarau, por maior que seja a disparidade
e o desencontro de datas.
(Ainda bem que Woody Allen não lê o blog.)
De resto, fica a sensação boa
de poder voltar no tempo e esbarrar
com gente tão cheia de talento
e ao mesmo tempo tão cheia de luz, amor, carne e osso.
[E você? Se pudesse voltar no tempo,
pra onde iria? Quantos anos voltaria?
Confessa, vai: quem você gostaria de encontrar
pra bater um blá? Ou um "bleau", lá em Paris?]

terça-feira, 21 de junho de 2011

Forte

Deu sede.
Sede de beber a alegria da vida.
Acendeu a luz.
Deu medo.
Medo de perder o controle,
Encontrar o céu,
Esquecer o rumo de casa.
Abriu a janela.
Deu frio. Arrepio.
Deu a louca nela.
Bebeu uma taça de vinho,
Abraçou o espelho,
Pôs um samba pra tocar.
Rugiu por dentro,
Amou por fora,
Reaprendeu a acreditar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Frágil

Sozinha estava, sozinha ficou.
Frio. Alergia. Alegria nenhuma.
Fez do sofá seu refúgio, seu ponto de fuga.
Chorou sua dor, sua fome de amor.
Subiu pelas paredes, rascunhou desejos.
Sozinha. Nua. Sem rua.
Perdida nos seus medos, perigos, devaneios.
Perdida no filho que se perdeu.
Cansada de sonhar alto. Cansada de sofrer demais.
Enroscou-se como uma gata no cio.
Fechou os olhos para não enxergar seus espaços vazios.
Derramou hormônios na escuridão.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Deus de carne e osso

Ontem o Léo chegou da aula todo entusiasmado.
- Mãe, hoje eu apresentei um teatro!
- É mesmo, Léo? Que bacana, me conta!
- Eu era Deus.
- Deus?! E o que você fazia?
- Eu não aparecia. Ficava debaixo de um lençol, lendo a minha fala.
Pensei um pouco e já fui filosofando:
- Às vezes é bom brincar de Deus, né, filho?
- É sim, mãe. Deus tem folga!
(...)
Depois do riso, continuo filosofando, conversando com o Léo sem dizer palavra, pelas vias do pensamento e do coração:
Ah, meu filho. Um dia você vai ver - não agora, Deus queira - que a última coisa que Deus pode fazer é tirar folga. Tanta gente dorme e acorda falando com ele, pedindo, chorando, implorando muitas vezes por um milagre.
Que Deus tenha uma poltrona bem confortável e uma bacia de água quentinha para descansar os pés de suas tantas andanças em busca de amor e paz. Mas que não perca nunca esse dom de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, olhando por nós e escutando as nossas preces, transformando escuta em luz e labuta. Trabalho é o que não falta.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Grandes encontros

Há encontros que podem mudar a nossa vida.
Não estou nem falando daqueles graaaaaandes encontros que acabam levando ao altar, ou a uma super carreira no Japão ou, quem sabe, um convite irresistível para dançar balé na Rússia.
Estou falando dos encontros simples, singelos, banais, alguns marcados há muito tempo, outros improvisados de véspera. Pode ser numa praça, num boteco, num café. Pode ser regado a vinho, com entrada de pão caseiro molhado no azeite e uma massa bem quentinha enfeitada com manjericão da horta. Pode ser numa salinha gostosa, com um cappuccino bem cremoso e almofadas coloridas.
O lugar não é o mais importante. Mas se você encontra alguém que te olhe nos olhos, que te escute e aceite você exatamente do jeito que você é - seu lado sol e seu lado sombra, seu lado normal e seu lado meio maluco, então aquele encontro pode entrar pra história. (Pra sua história.) Principalmente se você sai desse encontro melhor do que entrou. Principalmente se, no meio do choro e da aflição, você consegue morrer de rir de você mesmo. Mesmo que escute umas boas verdades e faça disso um grande aprendizado.
Desses encontros saem palavras, pensamentos, ideias e por vezes puxões de orelha que não doem nadinha, mas curam o que estava machucado. Curam de maneira simples, sem prescrições médicas ou bulas de remédio assustadoras. Curam pelo simples fato de carregar amor nesses olhos que olham, neste coração que escuta, nestas palavras que falam como se tocassem música.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Baldes

Na falta da bola, chuta o balde. A lata. O travesseiro.
Se ainda não te contaram, você não é de ferro.
Não tem peito de aço nem capa de mulher maravilha.
Cospe fogo. Marimbondo. Sobe nas tamancas
e arma o maior barraco porque lá vem chuva.
Com direito a relâmpago, raios e trovoadas.
Sai de cima do muro.
Faz careta e vê se não engole mais sapo.
É certo: uma hora o sangue talha. O leite ferve.
O pé enche de bolha. (Não, você não vive numa bolha.)
Mas se insiste em pensar que vive,
qualquer hora vai ver que ela estoura. Puf.
Tá na chuva é pra se molhar.
Ajoelhou, rezou. Pediu, ganhou. Bateu, levou.
Mas depois do joelho ralado,
vai tomar um banho bem quente.
Faz bolha de sabão. Oleozinho aromático.
Sais pra energizar a alma.
Boa noite. Dorme feito um anjo vestido de criança.
Vai sonhar com a lua,
contar estrelas e acordar com o sol.
Só.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Despedida

Esvaziar gavetas, arrumar as malas, içar velas.
Hora de deixar pra trás os seus velhos fantasmas, medos que nasceram na infância, pesadelos de outrora. Adeus velhos traumas, tropeços que fizeram buracos
no chão, buracos na alma.
Hora de partir. Seguir em frente. Sair sem olhar pra trás. Trocar o medo por coragem. Esquecer o que passou. Reinventar a roda, a paisagem, o tempo.
Anda. Bora. Aproveita que o sol está nascendo e vai junto com ele. Nascer de novo. Encher de luz o seu caminho. Chegar noutro lugar.
Vai.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Lógica infantil de consumo

Horário Nobre, Discovery Kids, intervalo comercial. De repente a tela é tomada por uma porção de ratinhos de pelúcia coloridos dirigindo carrinhos, deslizando dentro de bolhas, fazendo todo tipo de acrobacia.
Não deu tempo nem de acabar a propaganda e a Bella já foi pedindo, no maior entusiasmo, conhecedora de causa do assunto:
- Eu quero, mãe! Eu quero! Me dá um ZhuZhu Pet?!...
- ZhuZu o quê?
- ZhuzuPet, mãe. Repete: Zhu-Zhu Pet! Aprendeu? Eu quero!
- Quem sabe no Dia das Crianças, né, filha?...
- Eu quero o rosa, o azul, o amarelo...
- Ichi, filha, aí a mamãe não tem dinheiro...
- Compra dinheiro, mãe!
.........................................

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ouvindo vozes

Você não precisa ser louco(a) para ter a sensação de que está ouvindo vozes. Não, meu(minha) caro(a), entrego-lhe agora um atestado de sanidade mental. Basta ser homem, mulher, mãe, filho(a), profissional, gente grande, enfim, para ficar com a cabeça quente de tanto barulho. Vozes se misturam sim, entre razão e emoção, ego e superego, medo e coragem. Sem falar naquelas tantas outras que passeiam pela sua cabeça e que não são suas: a voz da sua mãe, seu pai, seu marido, sua chefe, sua sogra. (Quando são da sogra, então, as vozes não falam: gritam. Ou cantam, se estivermos falando da minha sogra.)
Geralmente estas vozes entram em coro (e em choque) quando pinta uma dúvida sobre como agir.
“Será que eu vou?” “Será que não vou?” “Faço, não faço?” “Ligo, não ligo?” “Falo, não falo?” “Começo ou termino?” “Caso ou pedalo?”
E aí você vai ficando dividido(a), espremido(a), cheio de dúvida e angústia.
Longe de mim ser mais uma voz no meio desse falatório todo. Mas, se me permite, talvez você esteja escutando muito o outro e se esquecendo da opinião mais importante: a sua.
Quando eu era pequena, costumava compartilhar com minha mãe as minhas dúvidas e inseguranças, e ela sempre dizia:
- Escuta o seu coração, Rê.
É isso. Tão simples, tão mágico, tão cheio de funcionalidade.
Experimenta ouvir seu coração e depois me conta.
Perder a voz – isso sim – pode ser enlouquecedor.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Nasce uma mãe

De um "eu te amo" nasce um filho. De um filho nasce uma mãe. Da mãe nasce a emoção, o padecer, a alegria e a preocupação pra vida toda. Nasce o colo, o chamego, a mudança de ritmo, a ilusão de que se é mulher elástico. E nasce mais e mais amor, um amor que não dá pra medir nem racionalizar, apenas servir.
E nasce angústia quando esse filho cai em febre, cai na vida, cai no chão. Nasce cabelo branco, ruga, nasce música e poesia. E nasce tem hora a vontade de voltar pra barriga da mãe, já nascida avó faz tempo.
E nasce cuidado, nasce história, nasce algo que as propagandas do Dia das Mães ainda não conseguiram traduzir.
Nasce o Léo, nasce a Bella pra encher de luz e sentido
a minha vida.

P.S.: Nasce também uma falta de tempo danado, a responsável por este post chegar com um dia de atraso. Feliz Dia das Mães pra você!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Brincadeira de mau gosto

Tem gente que brinca com o amor.
Faz do que é sagrado passatempo.
Transforma riso em lamento.
Rasga uma história em mil pedaços.
Não dá conta de amar.
Não dá conta do amor.
Vira especialista em dor.
Dor de assombro, dor de susto,
dor de decepção, dor do cão.
Causa vazio, paraplegia, estômago incendiado.
Pega as cinzas e joga ao vento,
pega o amor e enterra com cimento.
Aqui jaz um amor que foi, já não é.
Que acabou, finitou, apenas poderia ter sido.
Ausente. Inexplicável. Inexistente. Desperdiçado.
Milhões de cacos de um amor que se quebra.
Jogado longe. Atirado sem dó nem pena.
Cama vazia. Alma vazia. Baita azia.
Por que a brincadeira?
Por que a ilusão sem eira nem beira?
Enlouqueceu. Escureceu. Perdeu a vez.
Com o amor não se brinca, criança.
Amor é verso, direção, poema, sentido de vida.
Uma pena quem escolhe brincar ao invés de amar.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Receitinha

Junte um bom papo, risos à vontade,
caipirinha de todas as frutas.
Junte rock, pagode, chorinho. Chore de rir.
Junte prosa, piada, causos e histórias.
Junte o lago, a lua, o beijo e o queijo.
Junte biscoito assado na hora,
pegadas de coelhinho pela casa afora.
Junte vinho, macarronada, karaokê.
(Fazer o quê?!)
Junte filé acebolado com molho balsâmico.
(Bálsamo dos deuses.)
Junte uma pia cheia de louça pra lavar.
Junte papos-cabeça, ombro e colo,
constelações muito familiares.
Junte crianças, peças de lego espalhadas
por todos os cantos, noite do pijama.
Junte os amigos e guarde na memória
momentos que valem uma vida inteira.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Terapia anti-stress

Calma, cocada. Você não tem que arrumar todas as gavetas de uma vez. Nem cortar o macarrão do cardápio. Nem ir pro convento porque o amor ainda não deu o ar da graça.
Também não tem que revelar todas as fotos. Aceitar todos os convites. Assumir mais compromissos
do que a agenda aguenta.
Senta, toma um suco. Graviola ou maracujá?
Graviola a gente pega do pé, lá no sítio do meu amigo Seise.
Maracujá deixa a gente calmo. Dá até pra tirar um cochilinho na rede.
Mas põe em banho-maria essa mania de abraçar o mundo, fazer mil coisas ao mesmo tempo,
aprisionar o vento.
Vai fazer brigadeiro de colher, tirar bicho de pé,
 dançar um forró retado.
Tira o pé do acelerador.
Joga fora o bloquinho organizador da sua vida,
mais parece um liquidificador.
Não é porque o mundo tá todo embolado, complicado que você precisa se embolar também.
Desenquadra. Desembola. Desestressa.
Vamos ao que interessa.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ser desumano

Certeiro no tiro.
Vazio de amor.
Frieza estampada.
Professor da dor.

Vidas interrompidas.
Sonhos enterrados.
Desmoronamento da alma.
Desaprendizado.

Mau com u.
Anomalia de sentimento.
Perversão nu.
Náusea.
Tormento.

Ausência do outro.
Falta de explicação.
Buraco no ser.
Desumano viver.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ser humano

Basta ser humano para ter dor, buscar amor,
esvaziar-se de sentido, procurar caminhos.
Basta nascer um dia para viver o morrer,
a incompletude, o pânico,
a angústia de não saber quem se é.
Ser humano é sentir falta, fome, alegria,
 tristeza, medo, coragem.
É se deparar com a emoção de expressar
o que vai do lado de dentro, por mais que doa muito.
É buscar ajuda quando o sofrimento
parece preencher todas as frestas desse ser.
É encontrar na ajuda um sentido, um caminho,
uma janela aberta para o sol entrar.

domingo, 10 de abril de 2011

Mal-entendido

Uma das grandes alegrias que a minha mãe tem é programar roteiros deliciosos de viagem com o Léo. Já contei aqui que eles foram pra Diamantina, Serra do Caraça, Gramado, Argentina. Uma farra só.
E aí - como não poderia deixar de ser - a caçula foi ficando ressentida. Não só pelo fato de não ir, mas pela falta enorme que começou a sentir do irmão. Resultado: a próxima viagem vai ser com os dois juntos, não tem jeito.
Aí ontem estávamos saindo da casa da mamãe, já dentro do elevador, quando ela noticiou o próximo roteiro: Tiradentes.
De repente a Bella amarrou a maior tromba, cruzou os braços e  soltou essa:
- Ah, não, eu não vou!... Não quero ir!...
E eu, tentando entender:
- Mas por que, filha, o que houve?
- Eu não quero tirar o dente!...
(...)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sexo e afeto

Engraçado. O mesmo sexo que esquenta, aproxima, seduz e encanta os namorados parece tirar férias no casamento. Longe da cama, vai parar no divã, no boteco, no desabafo entre as amigas, na cervejinha entre os amigos. E o que era pra ser prazer vira queixa. O que era pra ser encontro vira desencontro. O que era pra ser proximidade vira distância.
Baco, cadê você? Onde estás que não responde? (...) Por que o silêncio das taças, a secura do vinho, a garrafa quebrada?
E aí essa conversa daria uma tese. Retomando o último post, "a questão talvez esteja justamente na diferença entre os sexos. Na forma como a mulher e o homem vivem esse convite pro amor."
Os homens, práticos e objetivos que são, sentem falta de sexo e vão direto ao assunto. Apreciam qualidade, quantidade, criatividade. Que leve uma noite inteira ou uma "rapidinha" na manhã de segunda-feira, o sexo está no sangue, nas veias. Não pode faltar.
Para as mulheres, o afeto vem como senha para o sexo. E não se trata  apenas das preliminares, tão cobradas por elas. Nem tampouco de romantismo de pétalas de rosa. Trata-se do afeto diário, cotidiano, presente nas mais variadas formas e possibilidades: um beijo mais demorado, um telefonema sem quê nem porquê, um toque na mão, uma conversa gostosa na beira do fogão. Atenção afetiva, assim resumiria o sexo feminino.
E aí esses opostos vão se atraindo: sol e lua, café com leite, goiabada com queijo.
Se o dia é preenchido com afeto, a noite vira um convite especial para o sexo. E se o que vem daí é uma longa noite de amor, o dia seguinte promete. Os casais vão ficando mais juntos, mais conectados, mais amáveis e amantes.
Na toada desse delicioso ciclo vicioso, o sexo não precisa tirar férias nem fazer greve. Precisa fazer o que ele mais sabe fazer: amor.