quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Rotina de trabalho

Trabalho no oitavo andar com vista pro mar.
Entre uma pausa e outra, café com biscoito,
descanso os olhos sobre o verde-azul infinito
que decora o fundo de tela do meu computador.
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Trabalho no oitavo andar com vista pro AMAR.
Entre uma caixa de lenço e outra, detenho os olhos
sobre as mais variadas espécies de dor.
A dor de quem perdeu alguém.
A dor de quem procura alguém.
A dor de existir. A dor de sumir.
A dor de amar. A dor de remar.
A dor de crescer. A dor de nascer.
A dor da culpa. A dor da luta.
A dor da mãe, do pai, do filho.
A dor de barriga, cabeça, cílio.
A dor da profissão. A dor da escuridão.
A dor do trauma. A dor da alma.
A dor do rompimento. A dor do ligamento.
A dor de mendigar amor.
A dor da idade. A dor da infertilidade.
A dor do encontro. A dor do desencontro.
A dor do vazio. A dor de ver navios.
A dor do ser. A dor do ter.
A dor do estudo. A dor de tudo.
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Entre uma dor e outra, avisto o mar
transbordar pelos olhos de quem chora.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Filosofia infantil

E depois de muito filosofar sobre Deus, minha Bella vai crescendo cheia de "comos" e "por quês", ora perguntando, ora afirmando, atenta aos mínimos detalhes do que acontece no mundo.
- Mamãe, como é que faz canudo?
- Por que que o copo é redondo?
- Por que que o carro bate?
- Como é que o cabelo cresce?
- Se o papai não voltar de viagem hoje, acho bom eu dormir com você pra te fazer companhia...
- Melhor desenhar a menininha sem nariz mesmo. Se não vai ficar parecendo que ela tem um terceiro olho.
- Quero ir pra Itaipava com a vovó!
- Amanhã é depois de hoje?
- Os meninos são tão complicados!...
- Ah, vou dormir. Cansei de pensar! (...)

Há uma semana, do nada, anunciou no almoço que queria cortar o cabelo. Chanelzinho.
Sem pestanejar peguei o telefone e marquei o salão para os próximos trinta minutos. Antes que ela desistisse.
(Há um mês tentava convencer a pequena e nada. Personalidade forte, não abria mão do cabelo grande de jeito nenhum.)
Curiosa, tive que perguntar:
- Ué, Bella, o que deu em você?
- É que eu tava andando lá no pátio da escola, e vi a minha sombra. De cabelo curto. Achei tão bonito, mamãe, que tive inveja de mim. (...)

domingo, 5 de agosto de 2012

Começo de tudo

Minha Bella anda pra lá de filosófica.
Ontem à noite, já na cama, depois de todo o ritual para dormir, me vem ela com a seguinte perguntinha:
- Mamãe, quem é que criou Deus?
(...)
- Deus? (...) Ah, minha filha, Deus sempre existiu. E com a sua luz, com a sua força ele criou o mundo.
Não se dando muito por satisfeita, a danadinha insistiu:
- Mas quem criou Deus, mamãe?
- O amor, filha. Foi o amor que criou Deus.
E com esse mesmo amor enchi a pequena de beijos de boa noite, dorme bem, sonha com os anjos.
No dia seguinte, céu de brigadeiro, bem-te-vi cantando, Dia da Pipa na Praça do Papa, lá vem ela de novo:
- Mamãe, sabe quem criou o amor?
A PAZ!
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