segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mirante

Cai a noite.
Desmaia o sol.
Chove via láctea num mar sem fim.
Acorda o sono.
Não deixa morrer o sonho.
Desperta pro que está por vir.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ilhada

Inventou segredos.
Ensaiou mil beijos.
Deu férias pro azar.
Foi em busca do mar.
Em busca de amar.
Primeiro a si mesma, de corpo inteiro,
de alma pronta e lavada.
Depois para quem merecesse beber em fonte
tão abundante de amor.
Abundância, é o que nos diz o mar.
Eternidade, é o que responde o amor.
Sem tirar a roupa, se desnudou por inteiro.
Mergulhou em si mesma como veio ao mundo.
Virou ilha cercada de paz.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Carta aos meus filhos

Léo querido,

Vou torcer para você estar na aula de informática e ler em tempo real, ao vivo e em cores, a minha saudade, que é do tamanho do mundo.
Chegamos amanhã e vou apertar, abraçar, encher de beijos, colo e carinho você e a Bella.
Contagem regressiva, comece a contar desde já!
Amo muito vocês, meu sol, minha flor.

Mamãe.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Carta de amor

Querido Neruda,

Quando você se foi eu ainda nem havia nascido. Dizem que morreu de tristeza, dessas mortes que cabem bem aos poetas. Cheguei nove meses depois, e outros tantos anos aqui estou, sentada de frente pro mar, pensando no que os seus olhos viam quando também enxergavam a beleza de Viña del Mar. De um lado, a beleza do Oceano Pacífico que rega o seu Chile de congrios e ceviches. De outro, tão perto daqui, em Santiago, a força da Cordilheira dos Andes que nos encanta com o seu pranto perene de neve.
Inspirada em você, querido Pablo, dei um "pause" na rotina e vim viver o amor com todas as letras, versos, prosas e canções. Não foi isso que você escreveu? "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada." Imagino o quanto você amou e rimou o amor e a dor com sua alma de poeta, merece-dor do Prêmio Nobel da Paz. Sim, querido Neruda, o amor um dia acaba desaguando num oceano imenso de paz. Mesmo que no caminho doa, sofra, caia, morra, se descabele. Não é assim que você chamava a sua terceira mulher? La Chascona, a descabelada. Sim, querido poeta, o amor vira os enamorados pelo avesso.
Fui até a sua casa, estava fechada. Vou tentar amanhã, em Valparaíso, convidada que já me sinto a adentrar um pouco mais na sua vida, respirando cada canto de poesia que ainda hoje deve habitar La Sebastiana.
Pois bem. Vim escrever um pouco mais da minha história no seu chão que é repleto dela. E olhando pra esse marzão aqui na minha frente, abro uma garrafa de vinho, me lembro de Iemanjá (se você tivesse mais uma casa, este nome cairia bem) e brindo com você o amor que um dia, em suas memórias póstumas, você "confessa ter vivido".
E já que estou aqui, viva, vivinha da silva, bebendo na fonte da sua poesia, que eu não precise morrer para confessar a imensidão de amor que dentro de mim é mar e montanha, céu e chão, paz e revolução.
Adeus.

P.S: Um tanto de amor acho que aprendi com você.
P.S´: Relendo o post hoje de manhã, vi que "te dei" o Prêmio Nobel da Paz, quando na verdade você ganhou foi o Prêmio Nobel de Literatura. (...). Não importa. Quem tanto já falou de amor, quem tanto fez poema com o mar merecia mesmo dez Nobeis da Paz. O prêmio é todo nosso, querido Neruda.