sexta-feira, 28 de maio de 2010

A vida depois dos filhos

Depois que você tem filhos, tudo muda.
Os filmes da locadora viram minissérie.
O almoço esfria: suco derramado, briga com a beterraba, "quero fazer cocô" no exato momento em que você está levando à boca o rocambole de frango.
As manhãs de domingo começam cedo, por volta das seis da manhã.
As festinhas de aniversário viram programa de sábado à noite.
Você se torna um especialista em miojo.
Cria quase que dependência de babá e empregada.
Chuta o balde ou os brinquedos espalhados.
Descobre que a sua vida se divide em antes e depois deles.
E que eles são, sem nenhum exagero, a melhor coisa do mundo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Raiva

Grrrrrrrrrrrrrrrrrr!
Raiva aperta o dente, ferve o estômago,
bagunça a mente, corrói a alma, apimenta o dia.
Raiva de quê? De quem?
Nem!...
Pega uma almofada, vai...
Vai socando, gritando, xingando.
Chora se for preciso, solta um palavrão.
Joga longe a almofada, esperneia, faz pirraça...
Chupa bala chita, toma ducha fria, medita,
espreguiça, espirra!
(Saúde.)
Mas tira essa raiva de dentro de você, faça-me o favor.
Expurga esses demônios, manda a raiva embora, exorcisa.
(Precisa.)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Israel mora em mim

Música. Dança. Calor humano. Alegria.
Este foi o domingo que vivi na Praça Estado de Israel, em comemoração aos 62 anos de independência do país.
Eu estava lá para ver os meus filhos dançando entre bolhas de sabão.
Eu estava na barraca de produtos religiosos, ajudando a vender mezuzás, preces, chaveiros de mãozinha.
Eu estava inteira, em casa, respirando o ar contagiante de um povo que é pura emoção.
Entre comidinhas gostosas, velhos amigos e a alegria de estar em família, eu experimentei uma sensação especial de pertencimento.
Saudade do vô, da vó, de toda uma ancestralidade judaica que me fez chegar até aqui.
Na minha camiseta, a palavra PAZ circulava com esperança.
Alguns metros abaixo da praça, uma mesquita fazia igualmente parte da paisagem.
Minha mãe ficou com vontade de ir lá convidar o sheik.
Shalom!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Doutores da minha alegria

Nada contra os médicos. Pelo contrário. Sou neta de médico, paciente de excelentes médicos (Dra Diana, Cláudia Botelho, Daíse, Anelise, Celem, Mauro Kleber) e penso até em fazer medicina (na outra encarnação, é claro).
Mas como infelizmente tenho visto alguns médicos completamente anti-modelo, anti-médicos, anti-tudo, resolvi hoje homenagear dois anjos que me chamaram a atenção nos últimos tempos.
Um é o Doutor Elton Augsten, neurologista. De tão atencioso me deixou preocupada, uma noite sem dormir.
Explico: através dele, o Léo fez um eletroencefalograma e uma tomografia computadorizada para confirmar uma hipótese de enxaqueca (mal de família, fazer o quê?). Feito o exame, marcamos o retorno para a semana seguinte, quando ficaria pronto o resultado. Pois no mesmo dia à noite o Dr. Elton me liga, ele mesmo, dizendo:
"- Renata, não precisa trazer o Léo semana que vem, ok?"
Pronto. Meu chão caiu. Empalideci. "Ai, meu Deus, ele viu alguma coisa no exame", pensei. Contei pra minha mãe. Ela também perdeu o sono. No dia seguinte, ligou pro Dr. Elton e rasgou o verbo:
"- Dr. Elton, você viu alguma coisa no exame e não está querendo nos falar?"
"- Vi. Vi que está tudo bem, não precisa se preocupar. Só disse que o Léo não precisa vir porque realmente não há necessidade, assim podemos conversar melhor sobre ele..."
Ufa. Que alívio. E que surpresa encontrar um médico de Unimed tão atencioso, humano e competente.
O outro é o Dr. Nelson Martins, pediatra. Depois de uma via crucis, tendo passado por vários pediatras que "sofrem de indisponibilidade aguda", dei a sorte de encontrar esse médico que faz questão de ser acordado no meio da noite quando algo não vai bem.
"-Meu lema é ser encontrado", diz ele.
Há alguns dias a Bella passou a madrugada vomitando. Como acordou melhor, acreditei que ia ficar bem. Só que no decorrer do dia voltou a passar mal, fraquinha. Quando liguei pro Dr. Nelson, levei o maior puxão de orelha:
"- Por que você não me ligou cedinho, Renata?"
"-Ai, Dr. Nelson, fiquei com medo de te incomodar..."
"-Agora eu fiquei incomodado."
Elton. Nelson. Não é à toa que os nomes são parecidos. Além de Ph.D em competência, estes doutores não brincam no trato com gente.
A eles todo o meu carinho, reconhecimento e gratidão.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Como se escreve saudade?

Ai que saudade de brincar com as palavras
Fazer sopa de letrinhas
Respirar a pausa sutil das reticências.

Abro parênteses para declarar a minha saudade
De escrever pra você
Pra mim
Para os nós que desatam sós
Para você que tem olhos de poeta e alma de gente.

Sente a saudade desenhando cada letra
Gritando em cada verso
Ritmando o meu universo
Em prosa e alegria.

Quando escrevo mato minha sede de falar
Pra quem quiser ouvir
A emoção que mora no mundo
O amor que reside no fundo desse seu olhar que lê.


domingo, 9 de maio de 2010

Profissão: mãe

Outro dia estávamos tomando café da manhã fora e, depois da terceira vez que a Bella me falou que queria fazer cocô (nunca vi tanto encantamento em passear no banheiro - cocô que é bom mesmo nada...), o Dé entoou o clichê universal:
- "Ser mãe é padecer no paraíso!..."
- "Que que é padecer, mãe?" - perguntou ela.
Ah, minha filha, um dia você vai entender... Um dia você vai viver a alegria que é acordar com chorinho no meio da noite e experimentar o fascínio da amamentação. E põe pra arrotar. Troca fralda. Dá o outro peito. Embala pra dormir. Troca fralda de novo. Gotas homeopáticas para cólica. Mantas macias para aconchegar o colo.
Você não imagina o trabalho que dá, filha. Mas é um trabalho bem braçal. Deliciosamente braçal. Depois os filhos crescem e aí é que são elas. Operação tira fraldas. Operação tira bico. Dizer sim. Dizer não. Pode. Não pode. Castigo. Pirraça. Olha a educação. Seja obediente. Faça o para-casa. Escove os dentes. Hora de tomar banho. Nada de brigas. Reze antes de dormir.
Este é o trabalho educacional, filha. Este é que dá trabalho, pano pra manga, ruga e cabelo branco. Isso porque eu nem cheguei ainda na adolescência.
Calma, mãe. Um dia de cada vez. E cada segundo com a certeza de que maternidade é sinônimo de felicidade. Emoção especial. Alegria pra vida toda. Razão de ser. Sentido de vida. Preciosidade maior do mundo.

* Dedico este post à minha amiga Tiça, que ganhou o Davi de presente há 13 dias. E à minha mãe, que não tenho palavras para agradecer tudo o que ela significa na minha vida. E a todas as mães do mundo, anjos com o dom de abrir e iluminar caminhos.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Guerra

Ontem tive a alegria de participar do Programa Caleidoscópio, da TV Horizonte.
Apesar de não ser uma especialista em assuntos bélicos, fui convidada a falar sobre a guerra, juntamente com dois professores da área de Relações Internacionais e um estudante brasileiro que serviu ao Exército Israelense.
Essa era a pauta: guerra. A guerra que mata, que fere, que explode, que bombardeia e separa. A guerra do Vietnã, do Iraque, do videogame que aliena o seu filho por horas a fio, fazendo-o apertar mecanicamente o mouse como se fosse o gatilho de uma metralhadora.
Haja dor. Haja caos. Haja aleijamento do senso de humanismo, juízo, prudência. Haja falta de paz e benevolência.
Falar de guerras tão históricas e distantes me fez lembrar das guerras que escuto todos os dias no consultório: guerras frias, fervorosas, silenciosas. Verdadeiros armamentos dentro de casa, desunindo casais, quebrando famílias, rasgando o que poderia ser uma convivência de paz. Violência psicológica na escola, ecoando pelos corredores e reverberando na internet através de mentiras, rótulos, preconceitos. (O novo e famoso bulling.)
As pessoas estão guerreando sem perceber. Sem se darem conta. É ataque e defesa, pó e poeira, distância e aspereza.
Do jeito que as coisas estão, fica difícil pensar na possibilidade - mesmo que a princípio utópica - da paz. Mas me recuso a perder a batalha pra guerra.
Podem me chamar de ingênua, cega, poeta, otimista. 
Prefiro acreditar na força maravilhosa que a vida tem de transformação.
(...)
Paz pra você.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Todos merecem o céu

"- Papai do céu,
 ´potege` a mamãe,
o papai,
o Léo,
a vovó,
o vovô,
a minha ´piminha`,
o Ursinho Puf
e o Lobo Mau..."

*Bella rezando antes de dormir.

sábado, 1 de maio de 2010

Descubra a Alice que existe em você

No País das Maravilhas tem Chapeleiro Louco,  gato risonho, coelho apressado, flores falantes, rainha que manda cortar as cabeças. Tem poção mágica para diminuir de tamanho, efeitos especiais, cenário merecedor de Oscar.
Mas o que Alice tem de melhor é a mensagem que deixa pra gente grande. Gente que sonha, que tem ideias malucas e imaginação de montão. Gente que precisa descobrir que é dono da própria vida. Que pode ter liberdade de escolha, poder de decisão, conhecimento de causa quando o assunto é o coração.
Vai ver o filme e depois me conta.
Vai sonhar, vai tomar as rédeas da sua vida, vai viver o que é seu.
Corra, corra. Siga o coelho e transforme-se, como a corajosa Alice, em protagonista da sua história.
Loucura é não ser você.