terça-feira, 31 de maio de 2011

Baldes

Na falta da bola, chuta o balde. A lata. O travesseiro.
Se ainda não te contaram, você não é de ferro.
Não tem peito de aço nem capa de mulher maravilha.
Cospe fogo. Marimbondo. Sobe nas tamancas
e arma o maior barraco porque lá vem chuva.
Com direito a relâmpago, raios e trovoadas.
Sai de cima do muro.
Faz careta e vê se não engole mais sapo.
É certo: uma hora o sangue talha. O leite ferve.
O pé enche de bolha. (Não, você não vive numa bolha.)
Mas se insiste em pensar que vive,
qualquer hora vai ver que ela estoura. Puf.
Tá na chuva é pra se molhar.
Ajoelhou, rezou. Pediu, ganhou. Bateu, levou.
Mas depois do joelho ralado,
vai tomar um banho bem quente.
Faz bolha de sabão. Oleozinho aromático.
Sais pra energizar a alma.
Boa noite. Dorme feito um anjo vestido de criança.
Vai sonhar com a lua,
contar estrelas e acordar com o sol.
Só.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Despedida

Esvaziar gavetas, arrumar as malas, içar velas.
Hora de deixar pra trás os seus velhos fantasmas, medos que nasceram na infância, pesadelos de outrora. Adeus velhos traumas, tropeços que fizeram buracos
no chão, buracos na alma.
Hora de partir. Seguir em frente. Sair sem olhar pra trás. Trocar o medo por coragem. Esquecer o que passou. Reinventar a roda, a paisagem, o tempo.
Anda. Bora. Aproveita que o sol está nascendo e vai junto com ele. Nascer de novo. Encher de luz o seu caminho. Chegar noutro lugar.
Vai.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Lógica infantil de consumo

Horário Nobre, Discovery Kids, intervalo comercial. De repente a tela é tomada por uma porção de ratinhos de pelúcia coloridos dirigindo carrinhos, deslizando dentro de bolhas, fazendo todo tipo de acrobacia.
Não deu tempo nem de acabar a propaganda e a Bella já foi pedindo, no maior entusiasmo, conhecedora de causa do assunto:
- Eu quero, mãe! Eu quero! Me dá um ZhuZhu Pet?!...
- ZhuZu o quê?
- ZhuzuPet, mãe. Repete: Zhu-Zhu Pet! Aprendeu? Eu quero!
- Quem sabe no Dia das Crianças, né, filha?...
- Eu quero o rosa, o azul, o amarelo...
- Ichi, filha, aí a mamãe não tem dinheiro...
- Compra dinheiro, mãe!
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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ouvindo vozes

Você não precisa ser louco(a) para ter a sensação de que está ouvindo vozes. Não, meu(minha) caro(a), entrego-lhe agora um atestado de sanidade mental. Basta ser homem, mulher, mãe, filho(a), profissional, gente grande, enfim, para ficar com a cabeça quente de tanto barulho. Vozes se misturam sim, entre razão e emoção, ego e superego, medo e coragem. Sem falar naquelas tantas outras que passeiam pela sua cabeça e que não são suas: a voz da sua mãe, seu pai, seu marido, sua chefe, sua sogra. (Quando são da sogra, então, as vozes não falam: gritam. Ou cantam, se estivermos falando da minha sogra.)
Geralmente estas vozes entram em coro (e em choque) quando pinta uma dúvida sobre como agir.
“Será que eu vou?” “Será que não vou?” “Faço, não faço?” “Ligo, não ligo?” “Falo, não falo?” “Começo ou termino?” “Caso ou pedalo?”
E aí você vai ficando dividido(a), espremido(a), cheio de dúvida e angústia.
Longe de mim ser mais uma voz no meio desse falatório todo. Mas, se me permite, talvez você esteja escutando muito o outro e se esquecendo da opinião mais importante: a sua.
Quando eu era pequena, costumava compartilhar com minha mãe as minhas dúvidas e inseguranças, e ela sempre dizia:
- Escuta o seu coração, Rê.
É isso. Tão simples, tão mágico, tão cheio de funcionalidade.
Experimenta ouvir seu coração e depois me conta.
Perder a voz – isso sim – pode ser enlouquecedor.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Nasce uma mãe

De um "eu te amo" nasce um filho. De um filho nasce uma mãe. Da mãe nasce a emoção, o padecer, a alegria e a preocupação pra vida toda. Nasce o colo, o chamego, a mudança de ritmo, a ilusão de que se é mulher elástico. E nasce mais e mais amor, um amor que não dá pra medir nem racionalizar, apenas servir.
E nasce angústia quando esse filho cai em febre, cai na vida, cai no chão. Nasce cabelo branco, ruga, nasce música e poesia. E nasce tem hora a vontade de voltar pra barriga da mãe, já nascida avó faz tempo.
E nasce cuidado, nasce história, nasce algo que as propagandas do Dia das Mães ainda não conseguiram traduzir.
Nasce o Léo, nasce a Bella pra encher de luz e sentido
a minha vida.

P.S.: Nasce também uma falta de tempo danado, a responsável por este post chegar com um dia de atraso. Feliz Dia das Mães pra você!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Brincadeira de mau gosto

Tem gente que brinca com o amor.
Faz do que é sagrado passatempo.
Transforma riso em lamento.
Rasga uma história em mil pedaços.
Não dá conta de amar.
Não dá conta do amor.
Vira especialista em dor.
Dor de assombro, dor de susto,
dor de decepção, dor do cão.
Causa vazio, paraplegia, estômago incendiado.
Pega as cinzas e joga ao vento,
pega o amor e enterra com cimento.
Aqui jaz um amor que foi, já não é.
Que acabou, finitou, apenas poderia ter sido.
Ausente. Inexplicável. Inexistente. Desperdiçado.
Milhões de cacos de um amor que se quebra.
Jogado longe. Atirado sem dó nem pena.
Cama vazia. Alma vazia. Baita azia.
Por que a brincadeira?
Por que a ilusão sem eira nem beira?
Enlouqueceu. Escureceu. Perdeu a vez.
Com o amor não se brinca, criança.
Amor é verso, direção, poema, sentido de vida.
Uma pena quem escolhe brincar ao invés de amar.