segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Bom dia, tristeza!"

Você cresceu ouvindo que homem não chora. Disse que era um resfriado quando na verdade estava tentando disfarçar as lágrimas. Viu tudo cinza quando o sol estava brilhando.
É, você conhece bem esse negócio chamado tristeza.
Já quis não sair do quarto muitas vezes. Já deixou de comer. Comeu uma barra inteira de chocolate. Quis dormir para fugir. Quis acordar só daqui a cem anos.
Bem-vindo à vida, meu(minha) caro(a). Tristeza é antônimo de alegria. E de vez em quando aparece sem avisar, entra sem pedir licença, arromba a porta.
E aí o que você faz? Além de ficar triste pelos motivos que tem, fica triste pelo simples (ou complicado) fato de estar triste. E aí vira dupla melancolia. Você fica triste porque está triste.
Já parou para pensar que você pode, sim, ficar triste de vez em quando? Que pode ter motivos pra isso? Que faz parte da vida? Que a vida, inclusive, não é um mar de rosas nem propaganda de margarina?
Sábia era a minha bisavó que costumava dizer: "Bom dia, tristeza". O que quer dizer mais ou menos o seguinte: olhe para a sua tristeza. Não finja que ela não existe. Antes que ela arrombe a porta, atenda a campainha e diga-lhe para entrar. Sirva um cafezinho. E não se assuste se ela for logo embora, dar espaço pra alegria entrar.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Freud explica


Ontem a famosa teoria do Complexo de Édipo saiu dos livros e anais de psicologia e foi parar na minha cama.
Aliás, muito antes de ontem. Com apenas um ano e nove meses, minha pequena Bella é apaixonada pelo pai. Óbvio. Mas ontem eu não acreditei no que esse pinguinho de gente fez. Eram quase onze horas da noite e a pituquinha estava na cama com o pai, assistindo ao jogo do Galo, gritando gol e tudo mais, quando a mãe foi trocar sua fralda e tentar finalmente fazê-la dormir. (Já passava da hora.)
Fui trocando a fralda com o quarto à meia luz, caixinha de música, e ela foi amolecendo. Não titubeei e a levei na direção da sua minicama, quando ela disse pra minha alegria: "Deita, mamãe!"
Ufa. Deitei junto dela, a cobri com carinho, ela segurando a minha mão, eu fazendo cafuné no seu fino cabelo de anjo. Quando EU já estava quase cochilando, a mocinha me sai da cama e vai se aboletar com o pai, na minha cama. Pode?
E foi assim, provando na prática que o Complexo de Édipo existe, que a minha filha me pôs pra dormir.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Aluna de novo

Depois de anos dando aula, me vejo - com a maior alegria do mundo - no lugar de aluna. Estojo novo, caderno de capa dura, motivação correndo nas veias, perguntas que não querem calar.
Ao me ver de tênis e calça jeans, pronta pra ir pra aula, encontro um Léo surpreso:

-"Onde você vai, mãe?"
-"Pra Federal, filho. Estudar, igualzinho a você."
-"Você virou Polícia Federal?!" (...)

Não, filho. Virei uma estudante de mestrado, igual gente grande, tendo que ler textos em inglês e francês, tirando xerox, botando fé, aprofundando nos temas mais instigantes, abraçando o conhecimento, rebolando pra dar conta do recado. E feliz da vida lá vou eu, ser aluna de novo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Caça ao tesouro

É assim: escondo uma pista no vaso de flor e vou dando dicas pro Léo: "tá frio... tá quente!..."
Quando ele abre o papel, lê algo do tipo: "Para achar a 2ª pista, vá até o banheiro. Dica: xixi."
Aí ele vai até o banheiro, abre o penico da irmã e encontra a 2ª pista. Abre o papelzinho e mais uma instrução, dessa vez que ele terá que dar 7 passos em direção à sala de jantar. Dica: banana, e lá vai ele procurar por mais uma pista na fruteira. Abre o papel e lê em voz alta, letra por letra, em puro processo de alfabetização, a última pista: "para achar o tesouro, vá até a cozinha. Dica: frio!". E lá vai ele, esse meu menino ávido por abrir a geladeira e encontrar, feliz da vida um novo carrinho da "Hot Wheels".
Brincando brincando, ele caça as letras para achar o seu tesouro. Mergulha nas vogais, consoantes, desbrava frases e sonhos. Brincando brincando, eu entro no mundo dele e aprendo a ler nos seus olhos a alegria de fazer essa linda travessia.

PS: Essa brincadeira eu aprendi com a minha mãe, ícone de amor na minha vida, também apaixonada pelo mundo das letras, que na Páscoa costumava esconder meu ovo dentro da máquina de lavar.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amor pela profissão

Dá para perceber de longe um profissional que ama o que faz. Brilho nos olhos, seriedade, competência, dedicação e cuidado são alguns indícios de que você está em ótimas mãos.
Dei a sorte de encontrar no meu caminho pessoas que eu carrego na agenda e no coração, pra vida toda: professores, médicos, massagistas, dentistas e uma psicóloga querida que mudou para Porto Velho, levando com ela muitos pedacinhos de mim.
Conheço também uma odontopediatra pra lá de especial, cheia de amor pela profissão: além de acolher seus pacientezinhos (portadores de necessidades especiais também) com carinho e cantigas, a danada ainda por cima é contadora de histórias. Os meninos ficam literalmente boquiabertos com suas histórias de fadas, princesas e dragões. É tanto encantamento que não dá tempo nem de sentir medo do velho e chato motorzinho.
E você? Tem uma boa história pra contar sobre profissão?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

"Vende-se"

Todo início de semestre, no primeiro dia de aula, gosto de pedir a cada um de meus alunos que criem um anúncio publicitário vendendo um produto muito especial: o próprio aluno.
Com essa dinâmica acabo possibilitando uma apresentação mais criativa, menos "arroz com feijão" e com um pouco mais de "pimentinha".
Apesar do susto de ter que criar algo de cara, já no primeiro dia de aula, os meninos acabam agradando da idéia. Um anúncio, de tão criativo, foi premiado e acabei mandando publicar no jornal. A aluna e se comparava a uma bula de remédio e o título era "AcetilSimonesalicílico". Fantástico.
Mas uma coisa é comum e recorrente nesta atividade: o medo, a angústia, o desconforto de falar de si mesmo. Falar e ainda por cima colocar no papel, pânico total. A baixa auto-estima é visível e coletiva.
Se você tivesse que "vender" você num anúncio de revista, ou num slogan que seja, o que sairia?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Separação

O post anterior me fez pensar no avesso do amor duradouro: no amor quebrado, rasgado, doente. No amor que se tranforma em desamor. No amor que subtrai. No amor que machuca. No amor que envelhece com o tempo. No amor que não dá frutos. No amor que enrijece. No amor que nem deveria mais se chamar amor.
E aí fica a pergunta: o que leva duas pessoas que um dia se apaixonaram, se enamoraram, se gostaram, perderem-se pelo caminho? O que faz o encontro virar um grande desencontro? Qual é a razão de uma separação?
Para uns, traição. Para outros, rotina. Filhos. Falta de dinheiro. Agressão física. "Brincar de casinha". Virar irmão.
Qual é a sua visão?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Segredo

Antigamente divórcio era tabu, algo impensado e proibido. Hoje, apesar de toda a dor que isso implica, parece que já está no "script". É comum ouvir por aí que "algumas pessoas já casam pensando em separar."
Diante deste cenário, sempre que vejo algum casal completando bôdas de ouro, prata, porcelana, compartilho dessa alegria com admiração e uma pergunta que gosto sempre de fazer: "Qual é o segredo?"
Tenho obtido algumas respostas bem manjadas, mas cheias de significado:
"paciência", "amor", "tolerância"... "Dar mais valor aos pontos positivos do que negativos"...
Outro dia ouvi de um casal que prezo muito esse segredo: "cerimônia". Palavrinha tão bem-vinda, expressa na delicadeza do "por favor", "obrigada", "um beijo", "volte logo". Coisas que acabam se perdendo com a rotina e com a própria intimidade, causando um estrago enorme no relacionamento, esburacando o respeito.
Tenho visto casais de degladiando sem cerimônia nenhuma. E outros, que redescobriram o poder dessa palavra, resgatando o que ainda pode ser salvo.
Qual é o segredo, para você?



quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Epitáfio

Em um de meus encontros mensais com o Grupo Bem Viver, do Olympico Clube, cujo tema era "Viver o Morrer", propus o seguinte exercício: "Pense no seu epitáfio. (...) O que você gostaria de ver escrito nele?"
A princípio a proposta soa fúnebre, "prosa ruim", mas logo estavam todas aquelas simpáticas senhoras compenetradas sobre o papel, pensando na morte e - como não poderia deixar de ser - na vida.
Por mais que tenhamos dificuldade em viver a morte, ela é a grande e inexorável certeza da nossa vida. Daí o convite a vivermos o melhor que pudermos cada dia, cada segundo, como se ele fosse realmente o último.
E, se a morte aparecer de surpresa, levando embora alguém querido, que tenhamos força, força, força e serenidade para não morrermos junto.
Diante de uma perda, a vida nos convoca a sobreviver - a despeito de toda dor, incompreensão e desmoronamento.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Filho de Galo...

Cartão de Dia dos Pais criado exclusivamente pelo Léo (zero de interferência materna), suando a camisa pra escrever direitinho, em pleno processo de alfabetização e sem medir a paixão:
"PAI, VOCÊ É MELHOR DO QUE O TARDELI!"
.....................................................................................
Nem preciso dizer que este desbancou todos os outros presentes...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"Carta ao Pai"

Cada vez mais me vem a confirmação do quanto pai e mãe tem influência direta na vida da gente. Um gesto. Um grito. Colo. Carinho. Ausência. Presença. Tudo que vem deles deixa marcas pro resto da vida. Marcas que não se apagam com o tempo.
No caso do famoso escritor Franz Kafka, o simples pedido de um copo d´água deixou cicatrizes profundas. Transcrevo aqui um emocionante trecho da carta que ele escreveu ao seu pai, e de como ele se sentiu um nada na vida.
Quanto ao meu pai, tenho a sorte de ter as melhores lembranças, o chamego mais doce e um amor do tamanho do mundo. Ganhei na loteria por tê-lo na minha vida. E ele sabe disso.

“Querido Pai,

Você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Como de costume, não soube responder, em parte justamente por causa do medo que tenho de você, em parte porque na motivação desse medo intervêm tantos pormenores, que mal poderia reuni-los numa fala. E se aqui tento responder por escrito, será sem dúvida de um modo muito incompleto, porque, também ao escrever, o medo e suas conseqüências me inibem diante de você e porque a magnitude do assunto ultrapassa de longe minha memória e meu entendimento.

De imediato eu só me recordo de um incidente dos primeiros anos. Talvez você também se lembre dele. Uma noite eu choramingava sem parar pedindo água, com certeza não de sede, mas provavelmente em parte para aborrecer, em parte para me distrair. Depois que algumas ameaças severas não tinham adiantado, você me tirou da cama, me levou para a varanda e me deixou ali sozinho, por um momento, de camisola de dormir, diante da porta fechada. Não quero dizer que isso não estava certo, talvez então não fosse realmente possível conseguir o sossego noturno de outra maneira; mas quero caracterizar com isso seus recursos educativos e os efeitos que eles tiveram sobre mim. Sem dúvida, a partir daquele momento eu me tornei obediente, mas fiquei internamente lesado. Segundo a minha índole, nunca pude relacionar direito a naturalidade daquele ato inconseqüente de pedir água com o terror extraordinário de ser arrastado para fora. Anos depois eu ainda sofria com a torturante idéia de que o homem gigantesco, meu pai, à última instância, podia vir quase sem motivo me tirar da cama à noite para me levar à varando e de que eu era para ele, portanto, um nada dessa espécie (...).”

Franz
*Retirado do livro Carta ao Pai, de Franz Kafka, Companhia das Letras

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Na flor da idade

Criança é um serzinho especial mesmo.
Minha filha descobriu uma amiguinha nova no prédio, e eu fui logo fazendo o "social":
-"Mas que menina mais linda, como você se chama?"
-"Renata."
-"Ó! Minha xará!... Quantos anos você tem?"
- "Quatro. E você?"
- "Adivinha!..."
- "Mil."
(...)
Ei, alguém tem um creminho da Natura aí?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cuidado

"Cuidado com o que você pede, porque você pode conseguir."
Ouvi essa frase de uma professora do curso de psicologia, e acredito muito na verdade que ela encerra.
Tem gente que sabe sonhar e faz por onde realizar. Pede, reza, implora, corre atrás e quando vê já está voando.
Junto com a realização vem o sorriso no rosto e o friozinho na barriga. "E agora? Será que eu dou conta?"
(Ambíguo ser humano: medo e vontade, querer e fazer, inteiro e metade.)
É claro que você dá conta. Vai lá e faz. Vá em frente. Vibre. Dance. Pule. Comemore.

domingo, 2 de agosto de 2009

De volta pra casa

Férias é muito bom. Revigorante. Necessário. Bom demais da da conta.
Mas tão bom quanto ir é voltar, inteiro, pro seu lugar. Sua cama. Seu chuveiro. Seu canto. Suas contas. Suas plantas.
A padaria da esquina. O pão nosso de cada dia. O bom dia. O boa noite. Essa sensação deliciosa de se sentir em casa.
Bem-vinda à rotina.