sábado, 30 de janeiro de 2010

Autenticidade

Nada como a sensação de estar inteiro(a). Fazer o que gosta, se sentir bem, aproveitar o tempo. Seja do jeito que for, o importante é fazer sentido.
Você pode ser do signo de touro ou aquário. Seguir a multidão ou experimentar um pouco de solidão. Curtir rock ou música clássica. Bombar até de madrugada ou pular no sofá com o seu pijama preferido. Devorar um romance de 500 páginas. Fazer aquele romance dar certo. Brincar de esconde-esconde mesmo aos 40 anos. Viajar sem rumo nem prumo. Visitar um asilo. Fazer um curso de dança. Chamar o velho pra conversar. Dizer sim. Dizer não. Roubar um beijo. Mudar de emprego. Pintar o cabelo. Virar piloto de avião.
Qualquer que seja a sua, que seja você.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cultive


Continue dizendo ao seu filho que ele é burro. Que não presta pra nada. Que faz tudo errado.
Esqueça-se das brincadeiras, de rolar no chão, do abraço carinhoso e do beijo de boa noite.
Reforce sua falta de tempo com a falta de afeto.
É assim que se abrem fendas na alma, feridas enormes que doem e adoecem.
É assim que a auto-estima despenca, minúscula e impotente, marcada por um vazio abissal.
No entanto, se você escolher o jardim ao invés do deserto, não se esqueça de abençoar o seu filho todos os dias. Diga quantas vezes for preciso que ele é a razão da sua vida, luz do seu viver, menino querido, menina linda, poço de inteligência, seu céu, seu chão, seu mar, seu tudo de bom.
Isso sim é se preocupar com o futuro dos filhos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Receita Especial



Tem filme que a gente devia assistir ajoelhado.
Julie&Julia tem este sabor especial: é passado na França, baseado em uma história real e mostra o tempo todo delícias culinárias que eu jamais ousei fazer na vida.
Mas o filme vai além das panelas, ovos nevados, lagostas, risotos, tortas de chocolate, patos desossados. Julie&Julia é um convite para você pensar na sua vida. No que faz do momento em que acorda até a hora em que vai dormir. Na maneira como preenche o seu tempo ou simplesmente ocupa o tempo.  Na forma emocionante, monótona ou realizadora como vive a sua rotina.
Se você ainda não se encontrou, vai se encontrar um pouco na doce Julie e descobrir o quanto a vida pode ser transformada. Da deliciosa química da manteiga com o salmão, até a indescritível alegria de se realizar na profissão.
"Bon appetit!"

sábado, 23 de janeiro de 2010

Desafina-idades


Sei que irmãos brigam, sentem ciúmes, fazem as pazes. Faz parte.
Mas mesmo sabendo disso, a mãe coruja aqui sempre torceu para que seus filhotes fossem amigos, amorosos, companheiros.
Valeu a torcida. Apesar da diferença de idade, dá gosto ver e sentir o amor dos dois. O que não impede, é claro, alguns desencontros pelo caminho, especialmente no quesito gosto musical.
Arrumando a gaveta de CDs e DVDs, comentei:
- Nossa, isso aqui está muito cheio, acho bom separarmos o que vocês não escutam muito e fazer uma doação...
E aí veio a sugestão do Léo:
- Que tal dar a coleção inteirinha da Xuxa?
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cada um com o seu problema


Passo um terço do meu dia escutando dores, amores, angústias e alegrias (sim, essa bendita invenção, graças a Deus, também faz parte da vida).
Falta de dinheiro, sobra de tristeza, muitos casos, namorados raros, casamento com problemas, o problema de não ter casado, traição, dificuldade de dizer não, viva o vestibular, agrúrias da profissão, estar grávida, abortar os planos, crise da adolescência, crise da "adultescência", crise de existir, simplesmente.
Quem disser que não tem problema que tire os óculos cor de rosa.
Os problemas estão aí, é fato. Grandes, pequenos, singularmente universais. Mas depois que você tira os óculos, resta o seu olhar. Triste, esperançoso, embaçado ou feliz, é ele que te faz enxergar. É ele que se transforma em lanterna na noite escura do seu caminhar.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fases


Infância, adolescência, vida adulta, terceira idade. O que parecem fases distintas configuram tênues fronteiras marcadas pela emoção.
Você pode até fechar um ciclo e abrir outro, mas sempre leva com você um pouco (ou muito) daquilo que ficou. Suas carências. Seus medos. Sonhos. Vontades.
Experimente olhar para trás e enxergar o menino gordinho. A menina que nunca era chamada pra jogar bola. O menino que perdeu o pai cedo. A menina assombrada por seus pesadelos. O adolescente tímido.  A adolescente rebelde. O engravatado sem tempo pra brincar com os filhos. A executiva durona. O vovô com olhar de criança. A senhora que perdeu a memória para não se lembrar do fim.
As fases se distinguem na fisiologia e na carteira de identidade. Mas no fundo, uma fase carrega a outra no colo. As questões existenciais são cumulativas, permeadas de volta e resgate.
Qualquer que seja a sua idade, há muito de você dentro de você.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Cotidiano


- Manhê!... Você acha que eu faço um navio ou um ônibus de lego?
- Mãe, quelo cocolate!...
- Manhê, a Bella desmontou o meu lego!!!
- Mãe, passa batom?
- Manhê, quero a pirâmide do Playmobil de aniversário...
- Mãe, fiz cocô!... Cocossão!
- Ah, não, mãe, eu não quero tomar banho agora! Eu odeio tomar banho!
- Mãe, quelo bu! Buuuuuuuuuuuuuu!
- Manhê, agora você acha que eu desmonto o navio e faço um avião?

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Os esquilos também amam


Sabe aquela criança que vive dentro de você? Vai adorar ir ao cinema assistir "Alvin e os Esquilos 2". O filme é uma graça, cheio de tiradas interessantes, gostoso de ver e ouvir, quebra deliciosa de rotina.
Não sei quem ria mais, se eu ou o Léo. A Bella, empolgada feio ela só, saiu da cadeira e começou a dançar.
Vai lá e depois me conta.
Dá vontade de levar um daqueles esquilinhos pra casa.

Alternativa C (de Complexo de Édipo)


No período em que estive de férias, fiquei sem marido uma semana. O Dé precisou voltar para trabalhar ("afinal, alguém tem que fazer isso lá em casa") e eu fiquei aproveitando a praia com os meninos.
No dia dele chegar, ficamos ansiosamente aguardando do lado de fora da casa, ensaiando canções de boas-vindas.
Como já estava na hora de a Bella jantar, perguntei:
- Está com fome, filha?
- Tô!
(Perguntinha ingênua:)
- O que você vai querer,  pizza ou miojo?
- Papai!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A pausa da pausa


Amo o meu trabalho, amo trabalhar e amo tirar férias. Nada como colocar o pezinho na areia, olhar pro mar e não pensar em nada. Ou pensar em tudo - na vida, no repouso merecido, no peroá com farofa ou camarãozinho frito (isso é que é dilema), nos meninos que estão crescendo (e às vezes dá vontade de congelar),  na mistura de sal com água que lava a alma, na cocada puxenta, no próximo post,  no picolé da Kibon que é tudo de bom desde sempre, na família que é pura ligação, no amor que dá sentido à vida.
Nada como o sol, o mar, sombra e água fresca pra fazer a gente voltar ainda mais apaixonado pelo trabalho. Mãos à obra.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Nem tudo está perdido


Em tempos de "pegação", "vínculo-não", beijos e abraços banalizados, tive uma grata surpresa com o meu querido sobrinho Lucas, de 16 anos.
Clima de praia, sorvetinho no final da tarde, a família inteira resolveu pegar no pé do menino  por causa de uma garota que estava de olho nele.
"- Vai, Lucas, aproveita, só uns beijinhos, dá uma chance pra ela..."
Prensado contra a parede, mas demonstrando uma personalidade especialmente sua, ele sorriu timidamente e falou:
"Não dá, tem que rolar um sentimento..."
Sentimento, taí uma palavrinha que muda tudo. E que, acabo de ter a prova, não está em extinção.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Fim de um começo


Em absoluto contraste com os fogos, as taças brindando, a alegria  e a música contagiante, 2010 começa pedindo - implorando - um minuto de silêncio. 
Silêncio para chorar a dor de quem se foi e de quem ficou, testemunha de uma tragédia sem tamanho.
Desmoronamento de sonhos. Alegria soterrada. Avalanche de sentimentos. Chuva sem trégua, taças quebradas, tristeza cobrindo tudo, música desafinada. Gente que nasceu de novo. Gente que morreu sem ver.
Ilha Grande ficou pequena para conter tanta dor. Corpos sem flor. Vidas sem vestígios. Deslizamento de terra abrindo um buraco enorme na alma.
Um minuto de silêncio é pouco. Grande é o sentimento de pesar, grito surdo que vira nó na garganta, constatação do quanto somos pequenos nessa vida que é contraste da morte.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Tá no sangue


A genética é mesmo uma coisa incrível.
Meu avô materno foi um grande médico pneumologista, antitabagista ferrenho e fervoroso. Era do tipo que andava com guarda-chuva mesmo nos dias de sol, para abri-lo caso algum fumante aparecesse na sua frente: uma forma explícita de se proteger da intragável fumaça e demonstrar sua indignação contra o cigarro.
Pois  hoje o Léo ficou horas observando um homem fazendo uma  linda escultura de sereia na praia. Tão linda que não precisava do detalhe final: um cigarro colocado pelo autor da obra-prima na boca da sereia.
Sem titubear, o bisneto do Prof. José Feldman fez sua pequena grande intervenção:
- "Ô, moço, tira esse cigarro da boca dela..."
Pedido que foi imediatamente atendido pelo artista.