quinta-feira, 28 de março de 2013

No escurinho do cinema


E entre "cabruns", "grrrrrrrs" e "ôôôôôôôôôôs"
ouvidos em altíssima definição acústica,
como se estivéssemos todos em plena era pré-histórica,
fugindo de animais ferozes e pedras gigantes,
ganho uma cutucada da Bella:
- Mamãe, ainda bem que a gente não tá em casa, né?
- Por quê, filha?
- Por que senão você ia pedir pra abaixar o volume...
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Tempo das cavernas


Adultos, hora do recreio.
Prepare-se para a pipoca, o riso e a emoção de "Os Croods", um filme impactantemente delicioso.
Impactante pelos cenários coloridos, abalos sísmicos em terceira dimensão, invenção do fogo. (Sim, você quase havia se esquecido que ele foi inventado um dia.)
Prepare-se para conhecer uma típica família do tempo das cavernas, conectadíssima com a fome, os perigos do mundo lá fora, a necessidade de sobrevivência.
Prepare-se para se encontrar com o seu adulto pós-moderno que, embora preso em outras cavernas, ainda morre de medo do escuro. De medo de amar. De se encontrar. De virar gente grande. De voar, de ser, de simplesmente viver. (Viver é perigoso, meu caro.)
Em quantas cavernas mais você tem se escondido? Por trás de qual celular, debaixo de qual cobertor, engolindo quantos analgésicos pra dor?
A DreamWorks não colocou isso lá na ficha técnica, mas Guimarães Rosa devia estar lá, no maior de todos os letreiros, lembrando que "o que a vida quer da gente é coragem". Coragem de transpor montanhas, desenterrar-se de areias movediças, descobrir novas paisagens, sair do lugar, romper com o escuro. (Olha o fogo aí fazendo todo o sentido.)
Foi-se o tempo que medo era invenção de criança. Hoje os pequenos tem medo de mosquito da dengue, mas são os adultos que acendem o abajur à noite, às voltas com os seus fantasmas.
Como se não bastasse, o filme ainda tem um quê especial de constelação familiar quando a filha rebelde se enche de coragem para tomar o pai medroso. Na energia de um abraço, na ligação de um "eu te amo", no abismo da dor de uma grande perda, o que acontece é força.
Adultos, ao trabalho.

domingo, 10 de março de 2013

Quarentena


Onde foi mesmo que eu parei?
Por onde mesmo andei?
Nem sei se andei, ou voei.
Tentando capturar o tempo, abraçar o vento,
florescer poesia na aridez das teorias,
terminologias, metodologias, "uis" e "ias".
E como escrevia. Lia, relia, respirava fundo. Doía.
Depois de tantos mergulhos no "eu", no ser,
na mãe - nas várias faces dessa mãe contemporânea
tão cheia de culpa, dedicação, amor, cansaço,
transformação, conflitos e ambivalências,
aqui estou, de volta.
Dedilhando leve nesse teclado
que andou pegando pesado.
Depois de um mestrado de muita estrada,
gente "normal" outra vez.
Que vai ao cinema, arruma gaveta, dorme depois do almoço, escreve no blog. (Quanta saudade.)
Coisas simples assim, tão bem-vindas
depois de uma longa e bonita caminhada.
Aqui estou.