terça-feira, 29 de abril de 2014

Idílio Parte II


Viraram muitas páginas juntos, aqueles dois. Futuro do pretérito, fotossíntese, reações químicas, osmose, geometria.
Com o tempo se transformaram, se enamoraram, foram metamorfoseando amizade em amor, quase sem perceber.
A afinidade das salas de aula se estendia naturalmente para outros locus: nas festas juninas do clube, quando se adivinhavam no correio elegante; nas sessões de cinema, quando suas mãos se encontravam no saco de pipoca; no aconchego da sala de casa, quando eram acolhidos com alegria e pão de queijo pela família de cada um, despretensiosamente.
E foi assim, sem se darem conta, sem nomear ou protocolar o sentimento, que Diego foi entrando no mundo de Marina como se ele já fosse seu há muito tempo. E vice-versa.
Aos 14 anos, um primeiro beijo roubado na porta de casa trouxe muitos outros beijos presenteados, gratuitos, inventados. Corriqueiros, festeiros, juninos, sem data ou hora marcada. Sempre que a oportunidade fazia o convite, eles aceitavam de bom grado.
Aos 18 anos, a conquista da carteira de motorista e o carro emprestado do pai possibilitaram a Diego ampliar os convites. Aos 19, a vitória do vestibular trouxe mais motivos de comemoração, e eles sempre eram vistos saindo juntos e frequentando mais vezes a casa de cada um. Mais fornadas de pão de queijo e alegria, pipoca no escurinho do cinema, todos os motivos do mundo para carpediar a vida. Entre um encontro e outro, Diego e Marina se faziam presentes através do celular, com trocas de mensagens inspiradas em letras de música romântica.
Não eram namorados ainda. Ou melhor, não eram nomeados assim, nascidos que foram em uma era marcada pelo verbo ficar, desprendido de compromisso e vínculo. Mas foram ficando cada vez mais grudados, envolvidos, sintonizados, e numa chuvosa noite de março viraram namorado e namorada, oficialmente falando.
Com um ano e meio de namoro ele foi para o Canadá, em um intercâmbio de três meses. Marina, que já havia passado pela mesma experiência três anos antes, respeitou o momento dele e sugeriu que dessem um tempo. Ele aceitou.
Mas que tempo é esse que corre pelas vias do amor? Foi o tempo que passou devagar, doído de saudade, e que acabou mantendo os dois em contato, até presentes de Natal trocaram a distância.
Quando ele voltou, a sintonia tinha crescido e a convicção era uma só: não havia a menor dúvida de que eles queriam ficar juntos.
Seis meses depois, outro intercâmbio, dessa vez para Marina. Destino: Bordeaux, na França. Coração: doído, moído, como ficar longe dele por tanto tempo, sem nem direito a visita pra matar a saudade? Cabeça: madura, bem-resolvida, a dos dois. Como já haviam passado pela experiência do Canadá antes, se sentiam minimamente maduros para continuar o namoro, só que agora a distância.

Aguarde cenas do próximo post.

sábado, 26 de abril de 2014

Idílio Parte I


Começaram cedo aqueles dois. Compartilhando histórias, cadernos, lápis, risadas, apontador. Descobrindo mapas, espaços, sístoles, diástoles, revoluções. Resolvendo problemas de matemática e recitando poemas de Vinícius de Moraes,
essas coisas tão distintas que a vida se encarrega de juntar.
Diego na fileira do canto, Marina na carteira ao lado.
- Presente!
- Presente!
Na energia inconfundível dos seus onze anos, também presentes se faziam no recreio, na quadra, na cantina, no pique-esconde, nas festinhas de aniversário.
Abram o dicionário e lá está ela, impecável:
"afinidade: s.f. conformidade, aproximação, relação, simpatia: afinidade de gostos, de caracteres; afinidade entre a música e a poesia."
Simples de explicar essa amizade que nasceu espontânea, faceira, inteira. (Quem é que não tem um grande amigo pra lembrar?)
Música e poesia, ainda não inventaram conceito melhor de completude.
Diego e Marina, ainda não inventaram idílio tão bonito. E verídico, diga-se de passagem, mas com os nomes trocados, me autorizaram contar por aqui.
Aguarde o próximo post.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Encontro


Se você se encontrasse com Deus, o que ia dizer?
Palavras, interrogações, vírgulas, linhas,
reticências, entrelinhas, qual seria a pauta?
Qual o tamanho da emoção, do abraço,
da lista que nunca falta?
Quanto de choro teria para chorar?
Quanto de alegria para agradecer?
Quanto de você para renascer?
Um tanto enorme de coisas sem explicação
para entender,
várias perguntas sem respostas.
Nem mesmo as mais completas teorias,
filosofias, ias e mais ias.
Quantas mais Marias, cheias de graça e vida,
você clonaria se pudesse?
Cruz pesada para carregar.
Coluna envergada de tanto doer.
Tem gente que anda torto de sofrer, meu Deus.
Tanta ferida aberta pra curar.
Tanto verbo amar pra conjugar.
Mas nesse encontro, luz. Alento.
Filiação. Silêncio.
Serenidade. Esperança.
Paternidade. Calmante.
Quando tudo parecer mudo, inerte, escuro,
ainda há velas para acender.

domingo, 13 de abril de 2014

5 Anos


Há cinco anos a gente se encontra, conversa,
conecta, troca um dedo de prosa e poesia.
Respira fundo e chora, ri, pensa, sente,
sonha, realiza, eterniza o que há para ser guardado.
Há cinco anos a gente faz das palavras terapia,
da terapia alegria, da alegria razão de viver.

Obrigada por fazer parte
da minha inspiração e da minha escrita.

Com você, o blog faz festa, poema,
convite, pausa, movimento,
faz todo o sentido.


Um abraço carinhoso,

Renata

P.S.: Em breve, novidades para você. Aguarde.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Reza


Dormir, acordar, correr, sonhar,
encharcar a camisa, bater ponto na vida.
Bom dia, boa noite, o que você faz do sol à lua?
Tem gente que brilha.
Tem gente que apaga.
Tem gente que sente.
Tem gente que alaga.
Larga tudo. Para o tempo.
Deita os olhos na janela só por um instante.
Tanto de céu aquarelando a alma.
Tanto de nuvem virando barco de papel.
Tanto de montanha desaguando no mar.
Tanto de ar pra respirar.
Tanto de sonho pra viver.
Tanto de esperança pra sentir.
Tanto de amor pra nascer.
Tanto de Deus dentro de você.