domingo, 27 de janeiro de 2013

Santa Maria

Não. Nem luto oficial de sete dias. Nem todas as flores do mundo. Nem cem minutos de silêncio ou palavras proferidas. Nem mil microfones para gritar, chorar, denunciar a violência de uma dor que tomou tudo, devastou tudo. Cessou a música, derrubou sonhos, asfixiou a alegria, interrompeu lindas travessias de vida. Finda. Fenda. Venda nos olhos pra não ver um morrer tão gigantesco, consternado e doído.
Não. Nada apaga a tristeza, o vazio, a forma absurda desse fim.
Santa Maria. O nome da cidade também é evocação da mãe de Deus. Quantos não precisarão do seu colo e da sua luz nesse susto escuro?
Quando o socorro chegou, a música não mais se ouvia. Mas ao silêncio dos alvéolos rompidos juntou-se o som dos celulares tocando. Uma sinfonia high tech de chamadas não atendidas e telas coloridas pulsantes imploravam por um sinal de vida. Num só aparelho, mais de 100 chamadas não atendidas. Em mais de 200 corpos, a lastimável desconexão da vida. Na vida de quem fica, a perda completa de chão.
Santa Maria, rogai por nós.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Empreendedorismo infantil

Sol. Praia. Água de coco. Céu azul de brigadeiro.
Entre uma onda e outra, pausa na sombra da Castanheira para a tradicional reunião de família. Assuntos delicados como "vai ser peixe ou camarão?", "caiaque ou banana?", "picolé ou sorvete?" vão sendo tratados, sem muita polêmica.
Quando o pé descansa na areia e os olhos se perdem parados no horizonte, onde o céu beija o mar, todos parecem chegar sem delongas ao consenso de que a vida é mesmo muito difícil. Dificílima.
E aí me aparece, para alegria de todos, um vendedor de cocada. Cocada preta, branca, de maracujá, leite condensado. Tem pra todos os gostos. Pode escolher.
Além do tabuleiro recém-saído do forno, o moço levava com ele a filha de seis anos, maiozinho no jeito pra quando o "serviço" acabasse.
Venda feita, missão cumprida, lá se foi o cocadeiro com o seu doce mais bonito.
Minha Bella, antenadíssima, ficou espichando os olhos para a menina, tão nova e trabalhadeira.
Aproveitando a deixa, o pai foi logo brincando:
- Tá vendo, Bella? Ela já trabalha, tá que vende cocada... E você, quando é que vai começar a trabalhar?!
(...)
- Quando você começar a vender!...
(!)

sábado, 12 de janeiro de 2013

Perolices animais

Como já contei antes, férias em casa é um caso sério. Até brincadeira de psicólogo entra na história pra passar o tempo.
Então, para variar o repertório, resolvi deixar os meninos no sítio, cercados de cuidados dos avós, tios e primos mais que corujas.
E aí as brincadeiras mudaram de profissão: as crianças viraram veterinários, mergulhadores, cozinheiros, fazendeiros. Uma farra só.
Quando chegamos, um Léo afoito veio correndo contar o episódio do ano. (Já.)
- Mãe, você não acredita! A gente tava brincando perto da porteira quando viu uma cena horrível. A égua do vizinho tava empacada, e o caseiro começou a bater nela com um pau. Bateu tanto, mãe, que a boca dela começou a sangrar! Saiu muito sangue!
- Que absurdo, meu filho, ninguém fez nada?
- A vovó saiu gritando, falando pro moço parar, deu a maior bronca. Num é um absurdo, mãe? A gente tinha que denunciar! Tinha que chamar o Obama!
(!)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013