quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Coisas da idade

Entro no elevador junto de uma simpática senhora de cabelos brancos, se queixando (sem lamúrias ou lamentações, mas com um largo sorriso no rosto) das suas "cadeiras".
Reforço:
- Ah, hoje em dia tá todo mundo "descadeirado"!...
(Risos.)
- Ah, não, minha filha, você ainda está muito nova... Já eu, do alto dos meus 84 anos...
- 84?! Não parece!...
- É o que todo mundo diz, mas já colhi 84 primaveras...
Pergunto, brincando:
- Ah, não, me conta: qual o creminho que a senhora usa à noite?
- Creminho? O creminho é a saudade e o amor, minha filha. Tô doida pra "ir embora" pra me encontrar com ele, que partiu já faz 16 anos... A gente vivia tão bem, mas tão bem...

Oitavo andar. Abre a porta do elevador, me despeço da alegre senhora.
Abro a porta do consultório, pensando na dor - dores tantas, escuto todo dia - que faz um amor partido.
Coisas da vida. Da idade. Conversas de elevador, dor de saudade.

8 comentários:

  1. Fico apaixonado quando escuto mamãe falando do papai.
    É igualzinho...

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  2. É apaixonante mesmo, PC. E pode ter o maior orgulho, porque é daí que você veio.
    Abração!

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  3. Em uma entrevista linda, Gilberto Gil compara o "encontro" dele com o do filho que já se foi, com o "encontro" dele com o mesmo filho antes de nascer. Isso iluminou meus dias e minha forma de ver o mundo. No Caminho de Santiago tive a mesma experiência, de estar mais próximo, lembrando Richard Bach, que escreveu que "Longe é um lugar que não existe". Hoje, sinto isso doer na pele, há mais de 3 meses sem ver minha filha que se foi pra Recife com a mãe... Esperando ela crescer, cresce meu amor e meus "encontros" com ela, sozinho, todas as noites e todas as manhãs.
    Saudades de você também, amiga Feldman.

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  4. Amigo Bê,
    Não consigo nem imaginar a dor dessa sua saudade. Só agora entendo o conteúdo de alguns de seus posts, tão poéticos e cheios dessa falta. Ainda bem que inventaram a música, a poesia e os caminhos - de Santiago e tantos outros - pra gente enxergar e sentir o tanto de amor que reside nessa também invenção chamada saudade.
    Abração!

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    1. ola renata! aki e a GRAZI nao sei se vc lembra de mim,, hoje dia 21/01/12 estava na sala o meu querido filho, estava mexendo na tv, e ele trocou o canal e vc estava dando entrevista sobre alta estima,. tenho saudades do leo e de vcs...

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  5. Bacana, Grazi, agora você também é mãe!...
    Parabéns, tudo de bom!
    Abraço,

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