domingo, 27 de janeiro de 2013

Santa Maria

Não. Nem luto oficial de sete dias. Nem todas as flores do mundo. Nem cem minutos de silêncio ou palavras proferidas. Nem mil microfones para gritar, chorar, denunciar a violência de uma dor que tomou tudo, devastou tudo. Cessou a música, derrubou sonhos, asfixiou a alegria, interrompeu lindas travessias de vida. Finda. Fenda. Venda nos olhos pra não ver um morrer tão gigantesco, consternado e doído.
Não. Nada apaga a tristeza, o vazio, a forma absurda desse fim.
Santa Maria. O nome da cidade também é evocação da mãe de Deus. Quantos não precisarão do seu colo e da sua luz nesse susto escuro?
Quando o socorro chegou, a música não mais se ouvia. Mas ao silêncio dos alvéolos rompidos juntou-se o som dos celulares tocando. Uma sinfonia high tech de chamadas não atendidas e telas coloridas pulsantes imploravam por um sinal de vida. Num só aparelho, mais de 100 chamadas não atendidas. Em mais de 200 corpos, a lastimável desconexão da vida. Na vida de quem fica, a perda completa de chão.
Santa Maria, rogai por nós.

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