quinta-feira, 28 de junho de 2012

Encontro marcado

Tomou um banho de horas.
Shampoo, condicionador, esfoliante,
óleo de maracujá para acalmar o mundo
que costuma carregar nas costas.
Pintou as unhas, passou perfume, hidratou as rugas,
passou a perna no tempo.
Batom vermelho, sombra nude, luz que sempre foi sua.
Há um bom tempo não se sentia assim.
Descompromissadamente inteira, dona de si, faceira.
Completamente face to face,
nenhum vestígio seu no facebook.
Olhou o relógio, subiu no salto, entrou no táxi.
- Restaurante Outono, por favor.
Leve aumento da frequência cardíaca.
Última retocada no batom.
Mesa reservada com o seu nome, vela acesa.
Atraso de vinte minutos.
Suspiro sutil de quem se preparou
há anos para este encontro.
Sentou-se tranquila, cruzou as pernas,
chamou o garçon, pediu um vinho.
Fez da taça espelho, sorriu por dentro,
brindou sozinha a alegria.
- Espera alguém?, interrompeu o garçon.
Ao movimento negativo da cabeça
sobreveio o movimento leve da alma, do corpo,
da emoção de quem um dia finalmente se encontrou.
Solitariamente bem-acompanhada.

4 comentários:

  1. Nossa melhor companhia somos nós mesmos, depois quem chegar. Fabiana

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  2. Companhia preciosa, Fabiana. Tesouro para quem chegar.
    Abraço!

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  3. Coloquei este post no meu face.. Eu, uma menina mulher beirando seus 31. Louca para ter filhos mas que não quer a rotina de um casamento; Feminista de carteirinha mas que adora quando pagam a conta do jantar. Que se perde as vezes neste dilema de ser eu. Ah! Porque justo a mim coube ser eu?? Pergunta esta que também me faz lembrar de um texto da Clarisse L. “Quando perco alguma coisa, me pergunto se eu fosse eu onde guardaria? – SE EU FOSSE EU. Eu já tenho a resposta disto.. finalmente...
    Diante desta crônica, e de refletir muito eu me respondo:
    Se eu fosse eu, eu queria ser igual a mim. E pagaria jantares e enviaria flores..

    ADOREI - PARABÉNS

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  4. Que lindeza, Mirla!... Seu comentário veio como um presente, desculpe pela demora em responder... Eu que adoro Clarice Lispector não conhecia este texto dela, mas coincidentemente li uma crônica da Martha Medeiros fazendo menção a ele. A pergunta "Se eu fosse eu" é instigante, terapêutica, um convite à inteireza e autenticidade, já a estou utilizando no consultório. Que você seja cada vez mais igualzinha a você, com direito a flores, jantares e o que mais fizer você feliz.
    Beijo e obrigada pela visita, volte sempre!

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